Eles invadem espaços abandonados e resgatam história com máquinas fotográficas

Grupo quer fazer um “inventário” de locais votados ao abandono e esquecimento no Grande Porto. Um ano depois das primeiras "desperdições", o projecto In-va-são vai dar origem a uma exposição.

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In-va-são aconteceu na antiga Cerâmica do Fojo, de Vila Nova de Gaia Fernando Veludo/NFactos
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In-va-são aconteceu na antiga Cerâmica do Fojo, de Vila Nova de Gaia Fernando Veludo/NFactos

Há um buraco na rede que veda o acesso à abandonada Empresa Cerâmica do Fojo, em Vila Nova de Gaia, e isso é o suficiente para a invasão começar. A luta é contra a “morte silenciosa” de espaços abandonados, a arma é a máquina fotográfica.

A ideia começou a desenhar-se há um ano, quando Sérgio Monteiro desafiou alguns amigos apaixonados por fotografia para uma “invasão”, precisamente ao local aonde regressaram neste sábado. Da ideia “recreativa” de explorar locais “do ponto de vista artístico e fotográfico” evoluiu-se para a criação de um “inventário” de espaços votados ao esquecimento no Grande Porto.

O projecto In-va-são vai dar origem a uma exposição no Mira Fórum, em Campanhã, de 18 de Janeiro a 15 de Fevereiro, com imagens das dez invasões concretizadas até agora e também com material fotográfico antigo que conte a história desses mesmos espaços.

As “desperdiçoes” — como lhe chama a antropóloga Eglantina Monteiro, que assinará o texto de apresentação da mostra — são espelho de uma “nova era industrial” e encerram uma série de reflexões sobre os “movimentos” inerentes à “entrada efectiva na modernidade”.

“Esta fábrica corresponde àquilo que foi a nossa revolução industrial, nos anos 60. Corresponde ao grande movimento das populações do interior para o litoral, à ida para o Ultramar. E termina com a cadência deste universo que tem a ver directamente com a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia. Deixámos de produzir muitas das coisas que se produziam aqui”, comentou com o PÚBLICO a antropóloga, que participou pela primeira vez nestes encontros, que já passaram pela Fábrica Comanor, pela Companhia Portuguesa de Cobre, pela Estação das Devesas, pelos Armazéns da Matinha, pela Solucel, pela Fábrica de Cerâmica das Devesas, pela Efanor e pelo Complexo Industrial Novinco.

Com encontros mensais (no primeiro ano, só os meses de Agosto e Dezembro não tiveram invasões), o grupo In-va-são vai crescendo de maneira informal no Facebook, onde conta com quase 200 membros.  E é a multidisciplinaridade — entre os participantes há pessoas de quase todas as áreas, como arquitectos, médicos, engenheiros, fotógrafos, arqueólogos e restauradores, entre outros — que mais enriquece o projecto, acredita o arqueólogo Sérgio Monteiro: “A coisa foi crescendo e temos um grupo multidisciplinar. Por isso, a leitura de cada invasão é sempre abrangente. Cada um vê um detalhe diferente.”

Na Fábrica do Fojo, os vestígios de outros tempos são visíveis: dezenas de moldes, tijolo burro e tijolo refractado para construção, o forno praticamente intacto, ficheiros abandonados no chão que asseguram que pelo menos até 1998 a fábrica funcionou. “Cada objecto, cada estrutura e cada espaço têm uma história para ser contada. Que devia ser resgatada. Mas isso não está a acontecer.”

Um ano depois da primeira visita ao Fojo, parte do telhado do edifício ruiu. No portão de entrada da fábrica desactivada está um cartaz que informa já sobre o licenciamento do espaço para urbanização. “Isto vai sumir com o passar do tempo, com a especulação e com as políticas que existem”, lamenta o arqueólogo.

Eglantina Monteiro não se deixa impressionar pela  nostalgia que a “aceleração da modernidade” imprime, mas acredita que estes espaços são fundamentais para que se escreva História: “Documentar é a palavra de ordem, é fundamental. E com a contribuição deste projecto podemos reflectir sobre o nosso mundo contemporâneo.”

No Mira Fórum, as imagens serão acompanhadas de debates e tertúlias, com a participação de entidades como a  Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património (APRUPP).

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