Chatos com chatos

Estou convencido que os chatos sabem que são chatos e que estão a chatear.

É costume pensar-se que os chatos nunca sabem que são chatos e que nunca pensam que nos estão a chatear. Também eu era dessa opinião até as provas do contrário se terem acumulado ao longo dos anos e me ter caído o telhado em cima.

Hoje estou convencido que os chatos sabem que são chatos e que estão a chatear. E que têm prazer em chatear. É uma espécie de vingança ou de comédia. Para eles não são eles que chateiam: somos nós que pensamos que eles nos chateiam.

Eles até não são chatos: nós é que temos a mania que eles são. Somos insensíveis ao charme deles. Não temos nem o gosto nem o talento necessário para apreciar o fascínio que eles exercem sobre espíritos superiores aos nossos.

Por isso vingam-se exibindo exageradamente as grandes qualidades que têm – a começar pela generosidade de partilhá-las connosco – para se deliciarem com o nosso obtuso desconforto.

Visto do ponto de vista dos chatos, somos nós os chatos: somos unidimensionais e flat: uns "flatos", incapazes de perceber a riqueza multifacetada deles, como míopes sem óculos normais ou 3D e, para mais, sem vontade de ver o Gravity.

Mesmo assim, anseio por uma maneira de apresentar os meus chatos uns aos outros, de forwardá-los uns aos outros, para que se entre-chateiem, se entre-carenciem e se entre-temporariamente satisfaçam uns aos outros.

Deus é grande e nós somos pequenos. Mas a chatice de cada um é infinita. Quem nos dera podermos reparti-las com os outros. Como fazem os chatos.
 
 

Sugerir correcção
Comentar