Karzai à procura de um legado
Presidente afegão não se poderá recandidatar, mas deverá usar eleições para garantir um lugar próximo do poder.
2014 deveria ser o ano da saída de Hamid Karzai, um Presidente que chegou ao poder com a bênção de Washington mas que esgotou há muito a paciência do seu principal patrono. Só que quase tão improvável como as presidenciais serem declaradas livres e justas é este aristocrata pashtun, nascido numa influente família de Kandahar, não usar as eleições para se manter na esfera do poder.
Figura dominante dos últimos 12 anos no Afeganistão, Karzai lidera o bloco político mais importante do país, assente numa rede clientelar que “se estende do palácio em Cabul aos ministérios, às províncias, distritos, aos responsáveis da justiça, dos negócios e das tribos”, adianta um relatório do Council on Foreign Relations.
O analista paquistanês Ahmed Rashid prevê que o Presidente escolherá, por isso, um candidato entre os 11 que se perfilam na corrida e acredita que a decisão será tomada em função “daquele que melhor o proteger a ele e à sua família alargada (em especial de acusações de corrupção)”. Mas há quem admita que está interessado em manter-se na sombra do poder, conseguindo um lugar de conselheiro.
Mas Karzai, que esteve com os mujahedin na luta contra a URSS e se aproximou depois à Aliança do Norte contra os taliban, está também preocupado com o seu legado, com as suas credenciais de nacionalista. A acusação de que é uma marioneta dos americanos, mil vezes repetida pelos taliban, é a que mais o ofende.
Por causa dela, critica Washington na mesma proporção em que depende da sua ajuda. Devido a ela, exigiu novas contrapartidas para assinar um acordo bilateral de segurança. “A minha responsabilidade é garantir que servirá os interesses do Afeganistão”, disse numa entrevista recente ao jornal Le Monde, em que acusou os EUA de “agirem como uma potência colonial”.