Exército mobilizado para Trípoli para controlar confrontos e travar milícias

Lutas armadas entre grupos de milícias continuam na Líbia. Governador militar de Bengasi sobreviveu a tentativa de assassinato

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Membros de milícias numa estrada a quinze quilómetros de Trípoli, no sábado Mahmud Turkia/AFP

Dezenas de carros blindados foram enviados esta segunda-feira para Trípoli, capital da Líbia, na sequência dos confrontos que provocaram 46 mortes e 400 feridos durante o fim-de-semana. Esta manhã, o governador militar de Bengasi foi alvo de uma tentativa de homicídio, tendo conseguido sobreviver.

O caos instala-se na Líbia, enquanto continuam os confrontos entre os grupos milicianos que lutaram, há dois anos, contra Muammar Khadafi. Depois da morte de 46 pessoas, o Governo decidiu usar as forças armadas para conter a situação na capital. "Numerosas unidades do exército nacional estão prestes a entrar na cidade de Trípoli através de várias áreas com o objectivo de garantir a sua segurança", de acordo com um comunicado do Governo, citado pela AFP. Os militares entraram no centro da cidade enquanto mostravam os dedos em V, como sinal de vitória, enquanto vários automobilistas apitavam à sua passagem.

As tensões entre os grupos armados de Trípoli e as milícias de Misrata (a 200 km a leste da capital) tiveram início na segunda-feira. As autoridades desta cidade deram 72 horas para que os milicianos se retirem de Trípoli, que temem que os confrontos "afectem a imagem da cidade e a mostrem como um obstáculo à construção do Estado", de acordo com um responsável citado pela AFP. Alguns membros das milícias de Misrata já abandonaram a capital líbia, mas muitos ainda permanecem, não se esperando de imediato uma acalmia da situação.

Os responsáveis locais de Trípoli já haviam instado o Governo do primeiro-ministro Ali Zeidan a tomar providências para controlar as milícias. No domingo, o líder do Conselho da Cidade, Sadat al-Badri, anunciou uma greve de três dias, numa manifestação do descontentamento da população para com os intermináveis combates entre milícias.

Apesar da decisão, não se prevê uma tarefa fácil para o exército líbio. Desde o final da guerra civil, há dois anos, que as forças armadas continuam desorganizadas e com pouca preparação. Ali Zeidan afirmava no domingo que "as próximas horas serão decisivas para a história da Líbia e para o sucesso da revolução".

Organizações de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch, apelaram ao "Governo líbio para que cumpra a sua promessa de desarmar as milícias e investigar os acontecimentos" dos últimos dias.

A agência noticiosa líbia Lana dá ainda conta do assassinato de um ex-comandante rebelde, presidente do conselho militar da cidade de Al-Ajilat (no Oeste do país), Youssef al-Atrach, no domingo, por desconhecidos.

Entretanto, esta segunda-feira de manhã, o governador militar de Bengasi, Abdallah al-Saiti, foi alvo de uma tentativa de assassinato, de acordo com fontes ouvidas pela AFP. Um explosivo rebentou num local por onde passava a comitiva do governador, acabando por matar uma pessoa e ferir gravemente outra.

"Os peritos em explosivos estão a conduzir uma investigação na zona para determinar de que maneira foi atacada a comitiva e qual foi a quantidade de explosivos utilizada nessa explosão, que foi ouvida na maior parte dos bairros da cidade", explicou o porta-voz da Câmara Comum de Segurança, Abdallah al-Zaidi.

A Câmara Comum de Segurança é um organismo onde estão representados todos os órgãos encarregados da segurança em Bengasi. Desde a queda de Khadafi que a região tem sido palco de vários atentados e homicídios, atribuídos a grupos extremistas islâmicos.

O número 2 dos serviços secretos do país, Mustafa Noah, raptado no domingo, foi, entretanto, libertado esta segunda-feira, avança a Reuters. Noah foi raptado por "criminosos" de Zenten (cidade a 170 km de Trípoli), de acordo com a agência Lana, que cita o próprio. As razões por trás do rapto não foram ainda conhecidas.

Notícia actualizada às 14:57 – Acrescentaram-se informações sobre o rapto, as reacções da Human Rights Watch e o ultimato das autoridades de Misrata.

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