Michelle Bachelet obrigada a segunda volta nas eleições do Chile

Resultados decepcionam ex-Presidente que esperava um mandato forte para avançar com plano de reformas ambicioso. Enfrentará nas urnas a candidata de direita Evelyn Matthei

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Michelle Bachelet

Michelle Bachelet venceu com uma enorme vantagem as presidenciais de domingo no Chile, mas com números insuficientes para ser eleita à primeira volta. Um resultado decepcionante para a popular ex-Presidente, que procurava um mandato incondicional para o seu ambicioso plano de reformas – com um futuro incerto depois de a coligação que a apoia ter ficado aquém das maiorias necessárias na Câmara dos Deputados e no Senado.

Para o revés de Bachelet terá sido decisiva a elevada abstenção (51%), naquelas que foram as primeiras eleições nacionais desde o fim do voto obrigatório. Mas muito do mérito foi também de Evelyn Matthei, a candidata de direita que superou as expectativas e desmentiu as sondagens que lhe davam entre 14 a 20% das intenções de votos. Terminada a contagem eleitoral, a ex-ministra do Trabalho e última escolha dos conservadores depois do afastamento de vários barões partidários conseguiu 25% dos votos, ainda assim a uma enorme distância dos 46,7% de Bachelet.

“Dissemos desde o início e poucos acreditaram. Desmentimos as sondagens e os analistas políticos que disseram que Bachelet ganharia à primeira volta”, disse Matthei no discurso aos apoiantes reunidos na sede de campanha, onde o clima quase se poderia descrever como de festa – afinal, sublinhou o enviado do jornal espanhol El País, a direita tinha-se preparado para sofrer já nessa noite uma das derrotas mais estrondosas desde o regresso da democracia.

Pela primeira vez na história do Chile, duas mulheres vão disputar o frente a frente final na eleição presidencial. Um inédito a que se juntam ingredientes que revolvem o percurso das duas candidatas e a história recente do Chile: Bachelet e Matthei são filhas de dois generais que, apesar de amigos, estiveram em lado opostos do golpe liderado por Augusto Pinochet em 1973, na sequência do qual o pai da ex-Presidente foi preso e torturado até à morte.

Mas além das distâncias ideológicas, uma enorme diferença de votos deverá separar as duas mulheres na segunda volta, agendada para 15 de Dezembro. O resultado acima do esperado de Matthei “dá-lhe espaço e vai permitir-lhe perder de maneira digna”, disse à AFP o professor universitário Cristobal Bellolio, que considera o novo escrutínio “quase uma formalidade” para a ex-Presidente.

“Vencemos estas eleições e fizemo-lo com uma grande maioria”, afirmou Bachelet no final da noite eleitoral, sublinhando que a distância para os restantes candidatos não deixa margem para “segundas leituras”.

Mas para ela, que em 2010 deixou a presidência com uma taxa de aprovação de 86% e ainda antes de confirmar a candidatura a um novo mandato tinha já 50% das intenções de voto, os resultados são uma desilusão, até porque sabia que uma vitória à primeira volta lhe daria maior legitimidade para avançar com uma agenda reformista que tem como grande desígnio reduzir as desigualdades no país.

Um plano de execução mais difícil depois de a Nova Maioria – coligação que une socialistas, democratas-cristãos e, pela primeira vez em décadas, os comunistas – ter conseguido maioria absoluta nas duas câmaras do Congresso, mas sem atingir os dois terços dos lugares necessários para aprovar sozinha alguma das medidas mais emblemáticas, como a revisão da Constituição ou a reforma que visa criar um ensino universitário gratuito.

É um resultado “muito decepcionante” para Bachelet, que “apesar da vitória expressiva não a deixa numa posição muito viável”, disse à Reuters o politólogo Peter Siavelis, antevendo a dificuldade que a ex-Presidente terá para convencer a oposição a apoiar reformas que põem em causa muitas das heranças da ditadura Pinochet.
 
 
 

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