Europa Central e de Leste é terreno fértil para surpresas eleitorais

Países com democracias mais recentes são mais propensos a criar condições para sucesso do populismo, mas Europa Ocidental pode seguir pelo mesmo caminho.

É no Centro e Leste da Europa que os pequenos partidos conseguem ascensões mais meteóricas, mas o futuro próximo dos sistemas partidários da Europa Ocidental poderá aproximar-se destas realidades, alertam os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO.

Com democracias com pouco mais de duas décadas, os sistemas partidários destes países são mais fluídos e estão ainda em formação. Contudo, há também factores conjunturais que explicam o sucesso dos novos partidos. “Os níveis de desconfiança em relação à classe política são muito superiores na Europa Central e de Leste, parcialmente por causa da herança do comunismo e pelos níveis altos de corrupção”, explica o professor do Departamento de Estudos Eslavos e da Europa de Leste do University College de Londres, Sean Hanley.

A leste, o impacto da crise económica sobre as respostas partidárias não é tão profundo como noutros países. “Na Europa Central passámos por reformas económicas dolorosas nas últimas décadas, portanto não há um efeito tão grande da crise”, nota o investigador e presidente do Instituto de Administração Pública da Eslováquia, Grigorij Meseznikov.

A existência de uma grande fatia de eleitores indecisos também potencia o voto em partidos de protesto. “Não esqueçamos que 40% da população [na Europa Central e de Leste] não vota e parte destas pessoas ainda está à procura de alguma alternativa, portanto há um solo bastante fértil para novos partidos”, sublinha Grigorij Meseznikov. Este eleitorado disponível apresenta uma falta de lealdade partidária, mas não em termos ideológicos. O autor do livro Alternative Politics: The Rise of New Parties in Central Europe, publicado recentemente, nota que “há uma circulação entre diferentes partidos, mas dentro do mesmo espaço ideológico”, de forma que, assim que um partido desaponta o seu eleitorado abre-se uma janela de oportunidade para que outra formação capture esses votos.

A oportunidade aberta pela desconfiança em relação aos partidos tradicionais pode ser aproveitada quando se observam algumas premissas. “Para se fundar um partido anti-establishment credível é preciso ter um certo nível de recursos e uma figura confiável e bem conhecida como líder, preferencialmente de fora do mundo da política, para poder agir como um anti-político credível”, observa Sean Hanley. “O timing também é importante – crie-se um partido muito cedo e o público vai perder o interesse, mas muito tarde também vai deixar pouco tempo para a organização”, prossegue o investigador, que “aconselha” um prazo entre um e dois anos antes de uma eleição. Há também “uma hipótese maior se a esquerda e a direita radicais forem fracas ou apelarem apenas a uma pequena subcultura de eleitores”, acrescenta.

Dado ser um fenómeno regular na Europa Central e de Leste, não há tanta desconfiança por parte dos observadores locais, por contraponto com as democracias mais consolidadas. Grigorij Meseznikov defende que “na Europa Central, os partidos alternativos são mais mainstream do que na Europa Ocidental”. Se vão ter que viver com eles, o melhor a fazer é dar-lhes o benefício da dúvida e tentar integrar os partidos anti-sistema. “Por exemplo, na República Checa o governo ainda não está formado, mas todos os partidos consideram o ANO 2011 um potencial companheiro de coligação. É porque este partido pode oferecer um programa e não o consideram anti-sistema”, sustenta Meseznikov.

Estes acontecimentos são considerados normais nesta região, mas a tendência é de que se propaguem para a Europa Ocidental. “As âncoras dos grandes partidos tradicionais estão a desaparecer gradualmente e as raízes na sociedade têm vindo a perder-se”, observa Sean Hanley. O especialista prevê que, “neste aspecto, a Europa Ocidental vai começar gradualmente a parecer-se com o leste”.

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