Telemóveis dos políticos: os seguros… e os outros

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Merkel tem um telefone da chancelaria considerado super-seguro Fabrizio Bensch/Reuters

Telemóvel codificado no bolso, linha telefónica fixa e Internet ultra-seguras no escritório: os chefes de Estado estão equipados para trocar informações sensíveis, mas também utilizam no seu quotidiano smartphones “normais”, o que é considerado uma brecha aberta para possíveis tentativas de espionagem.

A Alemanha divulgou que o telemóvel de Angela Merkel “poderá ter sido espiado pelos serviços secretos americanos”. A chanceler alemã pediu explicações ao Presidente Barack Obama, que lhe garantiu que os Estados Unidos não vigiam as suas comunicações.

Segundo o jornal Tagesspiegel, de Berlim, citando fontes governamentais, o telemóvel em questão não é o telefone codificado que Merkel utiliza enquanto chanceler, mas um outro de que dispõe enquanto presidente do partido democrata-cristão (CDU). Mas a agência de notícias alemã afirma que se trata efectivamente do seu telemóvel “oficial”, que é tido como ultra-seguro.

O Governo alemão está equipado há vários meses com smartphones Blackberry Z10 (cada um custa cerca de 2500 euros), equipados com uma solução especial de segurança.

Em França, a esfera dirigente dispõe de telemóveis codificáveis Teorem (3300 euros cada), fabricados pela Thales exclusivamente para o Estado. Agregados pela Agência Nacional de Segurança de Sistemas de Informação (Anssi),estes aparelhos permitem comunicações seguras até ao nível “secret defense”.

Alguns dirigentes políticos e altos funcionários franceses dispõem também de uma Internet ultra-segura e de uma rede interministerial de telefone fixo.

Mas estes sistemas são muitas vezes vistos como um constrangimento pelos seus utilizadores, porque requerem procedimentos mais complicados: um Teorem, por exemplo, demora até 30 segundo a estabelecer uma ligação por causa das chaves de segurança, o que pode ser irritante numa altura em que as comunicações são cada vez mais rápidas.

Sem Gmail ou Google

Numa circular de 19 de Agosto, quando o ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden já tinha revelado muitas informações sobre a amplitude dos programas de espionagem americana na Europa, os serviços do primeiro-ministro francês chamaram à ordem os ministérios em matéria de segurança de informação.

A circular especificava que a “a utilização de smartphones não agregados deve excluir a comunicação de informações sensíveis” e que “todas as informações sensíveis, mesmo que não sejam classificadas, devem ser trocadas através de terminais equipados com sistemas agregados pela Anssi”.

Dirigentes políticos, chefes de empresas, banqueiros, advogados ou mesmo jornalistas estão entre os muitos casos de pessoas que compram um telemóvel codificado a empresas especializadas. “Têm em paralelo com um telemóvel ‘normal’ um segundo aparelho IPhone ou Blackberry seguros”, explica à AFP Robert Avril, fundador da Cryptofrance, que em 2008 lançou os primeiros telefones codificados.

“Apesar de todas as sessões de sensibilização que são feitas, que estes dirigentes escutam atentamente, uma vez regressados a casa dizem que a espionagem e as escutas só acontecem aos outros. Estamos sempre a insistir com os nossos clientes para não terem conversas profissionais e não enviarem mensagens e emails através dos seus telefones normais”, sublinha o patrão da Cryptofrance.

“Os militares levam isto a sério, mas quando se trata de políticos é uma catástrofe - têm muita dificuldade em perceber que devem usar os telefones codificados, não têm consciência dos riscos, têm vários telefones e estão habituados a utilizar serviços como o Google e o Gmail”, explica Hervé Schauer, administrador da Clusif, uma associação francesa dedicada a cibersegurança.

Ao que consta nos meios da cibersegurança francesa, o antigo Presidente Nicolas Sarkozy, odiava o seu Teorem e o seu sucessor, François Hollande, mantém o seu telefone pessoal em complemento de outros aparelhos codificados.
 
 

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