Estudantes franceses novamente nas ruas contra a expulsão de jovens ilegais

O ministro do Interior, Manuel Valls, teve que antecipar o regresso a Paris para receber os resultados de um inquérito.

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Manuel Valls foi obrigado a antecipar o regresso a Paris KENZO TRIBOUILLARD/AFP

Entre quatro mil e 12 mil estudantes (números da polícia e dos organizadores, respectivamente) desfilaram esta sexta-feira em Paris, exigindo o regresso de alunos expulsos por serem imigrantes ilegais. "Queremos papéis para todos!", gritaram, e voltaram a exigir a demissão do ministro do Interior socialista, Manuel Valls, responsável pelo programa de repatriamentos.

Vals, que na quarta-feira partiu para uma visita de quatro dias às Antilhas – o seu gabinete fez saber que não havia razão para cancelar a viagem –, anunciou que regressava mais cedo. Previa-se que chegasse esta sexta-feira a Paris para receber o resultado do inquérito que o Governo ordenou ao processo de expulsão de Leonarda Dibrani, uma rapariga de 15 anos que a polícia foi buscar quando participava, com a sua turma, numa visita de estudo. Horas depois, no dia 9 de Outubro, a sua família já estava no Kosovo.

Na origem dos protestos dos estudantes do secundário está este caso e um outro, a expulsão de um estudante de 19 anos arménio, Khatchik Kachatryan. O sindicato dos alunos, o FIDL, apelara a outras escolas francesas para se juntarem ao protesto e revelou que mais dez mil alunos se manifestaram nas cidades de Marselha, Grenoble, Angers, la Rochelle e Avinhão. Algumas organizações não-governamentais e grupos políticos juntaram-se à iniciativa, incluindo a maior federação da educação (FSU), a CGT-Educ'action e o Réseau Éducation Sans Frontière.

O inquérito – que poderá só ser tornado público, e comentado pelo Governo, no fim-de-semana, de acordo com a imprensa francesa – sobre a expulsão de Leonarda visa apurar se foram seguidas as normas, sobretudo depois de se saber que há falhas no proceso da família e que Leonarda tem uma irmã que é cidadã francesa (e, por isso, não deveria ter sido expulsa). Leonarda foi levada de França com a mãe e os cinco irmãos. O pai já estava no Kosovo.

Resat Dibrani foi entrevistado pela AFP e deu as suas explicações. Contou que apenas ele é kosovar e que mentiu quando, há cinco anos, entrou ilegalmente em França. Os filhos, disse, nasceram em Itália (à excepção da mais nova, Medina, de 17 meses, francesa). Optou por mentir (disse que queimou a documentação da família) depois de as autoridades italianas lhes ter recusado asilo, acreditando que dessa forma seria mais fácil obter a legalização em França. "Pedi a nacionalidade italiana para os meus filhos, mas disseram-me que só podia fazer esse pedido se eu tivesse chegado a Itália com menos de 18 anos".

A família foi instalada pelas autoridades kosovares em Mitrovica, onde os filhos não frequentam a escola porque não falam sérvio nem albanês.

A polémica sobre a expulsão de Leonarda (aumentada pela forma como foi feita) abriu uma crise entre os socialistas no poder. O partido está dividido sobre os programas de repatriamento de cidadãos ilegais, mas Manuel Valls, antes de partir para as Antilhas, disse que não os iria mudar.

 
 
 

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