Mário Dorminsky desmente ilegalidades no Fantasporto

Actual vereador da Cultura de Gaia promete esclarecimento “inequívoco” dos factos relatados na revista Visão.

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Dorminsky diz que o assunto está nas mãos dos seus advogados Paulo Ricca/Arquivo

Mário Dorminsky, fundador do Fantasporto e seu director até ter assumido funções como vereador da Cultura da Câmara de Vila Nova de Gaia, garantiu esta quinta-feira que “nunca foi cometida qualquer ilegalidade” na gestão da cooperativa que organiza o festival, a Cinema Novo.

Dorminsky reagia ao artigo “Fantasporto: o thriller financeiro”, publicado no último número da revista Visão, que imputa a Dorminsky e à sua mulher, Beatriz Pacheco Pereira, diversas irregularidades na gestão da cooperativa e do festival, incluindo fuga ao IVA, falsificação dos números de espectadores, duplicação de facturas e uso de verbas da Cinema Novo para fins pessoais.

Acusações que constam de uma denúncia anónima enviada em Maio ao Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA), que este terá já feito chegar, segundo a Visão, à Inspecção-Geral das Actividades Culturais e à Autoridade Tributária e Aduaneira, tendo informado destas diligências o secretário de Estado da Cultura. O gabinete de Jorge Barreto Xavier confirmou ao PÚBLICO que “tomou conhecimento” da denúncia e que o processo foi encaminhado para as autoridades competentes.
 
 A Visão terá ainda tido acesso a documentos da contabilidade da Cinema Novo. A revista reproduz um recibo de 2011 relativo a um cruzeiro que Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira fizeram no Mediterrâneo, emitido pela agência de viagens LogiTravel em nome da cooperativa, e cita o montante exacto — 2900 euros — que a Cinema Novo terá alegadamente desembolsado para pagar a despesa do jantar comemorativo do 50.º aniversário do director do Fantasporto, em 2005.
 
O PÚBLICO contactou Mário Dorminsky, que afirmou que o assunto está nas mãos dos seus advogados e explicou que, neste momento não prestaria quaisquer declarações, remetendo-nos para a nota que enviou à Lusa. Um comunicado muito breve e que foi escrito ainda antes de a revista chegar às bancas, com base numa síntese do artigo, antecipada quarta-feira no site da Visão. “São falsos os factos constantes da súmula já publicada que constituiriam irregularidades”, escreve o ex-director do Fantasporto, que continua a co-dirigir informalmente o festival.

Num post colocado ontem no Facebook, Dorminsky repete este desmentido genérico, acrescentando: “Só amanhã será conhecido na plenitude o teor da peça, após o que, com a brevidade possível, tudo será esclarecido de forma inequívoca e sustentada”.
 
Despedimento colectivo
A denúncia que serviu de base ao artigo da Visão chegou ao ICA pouco depois de a direcção da Cinema Novo ter avançado, em Abril, com um despedimento colectivo que afectou seis trabalhadores. Dorminsky justificou então a medida, que obrigou a um empréstimo bancário para pagamento de indemnizações, como uma tentativa de evitar a insolvência. Na ocasião, confirmou ao PÚBLICO que a cooperativa ficaria apenas com duas pessoas, Beatriz Pacheco Pereira, com um ordenado de 4500 euros brutos, e a secretária Irene Pires, com um salário de 2040 euros. O contrato do próprio Dorminsky está suspenso desde que iniciou funções como vereador da Cultura na autarquia liderada por Luís Filipe Menezes.

O ICA já fez saber à Cinema Novo, escreve a Visão, que a 34.ª edição do Fantasporto, em 2014, receberia apenas 50 mil euros, contra os 100 mil atribuídos à edição que decorreu em Março deste ano — uma decisão que mereceu já o protesto da cooperativa. O concurso que abriu este ano e terminou em Abril, de acordo com dados de 30 de Agosto do ICA, está ainda em fase de homologação — aguarda a confirmação por parte do Secretário de Estado da Cultura da decisão do instituto.

Mas a situação financeira do festival poderá complicar-se ainda mais. Se uma eventual investigação das acusações que constam da denúncia enviada ao ICA vier a confirmar a existência de irregularidades na gestão do Fantasporto, não é de excluir que o financiamento público da próxima edição possa vir a estar em causa.

Uma das acusações feitas na denúncia que a Visão cita diz respeito à falsificação do número de espectadores, que teria sido feita com recurso a “centenas de bilhetes a custo zero”. Ora, o número de espectadores é um dos critérios de elegibilidade do programa de apoio financeiro anual à realização de festivais em Portugal, sendo que um festival terá de ter um mínimo de cinco mil espectadores na sua edição anterior para poder candidatar-se (ou 2500, caso seja um festival que decorra num concelho com menos de 100 mil habitantes). Outro dos critérios é a existência de bilheteiras com controlo informatizado.

Segundo a Visão, a mesma denúncia falará ainda de outras irregularidades, como a “duplicação de facturas enviadas para os organismos públicos que apoiam o festival”.

Já fora do âmbito da denúncia ao IAC, a Visão chama ainda a atenção para uma aparente rasura sofrida pelo currículo de Mário Dorminsky no site da Câmara de V. N. Gaia. “Até há pouco tempo”, garante a revista, o dito currículo abria assim: “Tem o curso de cinema da New York Film School, de Comunicação Social da Escola de Jornalismo do IJDL e de Gestão e Marketing da ESMAP”. Todos estes cursos desapareceram entretanto da página da câmara de V. N. Gaia, mas ainda podem ser encontrados, por exemplo, no site da autarquia de V. N. Famalicão, a propósito de uma visita de Dorminsky, em 2008, ao Centro de Estudos Camilianos. A Visão adianta que não conseguiu sequer descobrir a que entidades se referem as siglas IJDL e ESMAP. com Joana Amaral Cardoso
 
 
 
 
 

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