Nobre Guedes diz que houve uma “ruptura institucional” do Presidente com PSD e CDS

O antigo dirigente democrata-cristão Nobre Guedes defendeu nesta quinta-feira que houve uma "ruptura institucional" entre o Presidente da República e os partidos que apoiaram a sua eleição, mas que quem tem "sentido de patriotismo" deve ser útil à nova conjuntura.

"Publicamente, o que eu entendi é que é difícil não se chegar a esta conclusão: houve, efectivamente, uma ruptura institucional entre o Presidente da República e os dois partidos que apoiaram a sua candidatura", afirmou Nobre Guedes.

"É um acto muito pouco comum nas democracias ocidentais, é muito raro", sublinhou o antigo ministro do CDS-PP e antigo dirigente democrata-cristão. Para Nobre Guedes, "qualquer pessoa responsável, com sentido de patriotismo e consciência da gravidade da situação de emergência, que é enorme, tem que tentar colocar-se numa situação de utilidade e disponibilidade para aquilo que for possível dentro desta nova conjuntura, que é liderada pelo Presidente da República".

Esta conjuntura termina com "o mito" de "que a resolução de tudo estava em haver um presidente, um governo, uma maioria", afirmou, referindo-se a uma ideia defendida pelo antigo primeiro-ministro, fundador e líder do PSD Francisco Sá Carneiro.

"O Presidente da República quis colocar-se no centro da decisão política futura do país, assumiu essa responsabilidade. Ele tem informação e conhecimento como ninguém e, conscientemente, quis colocar-se no centro daquilo que vai ser o nosso futuro mais próximo", afirmou.

A "ruptura" que Nobre Guedes identifica entre Cavaco Silva e o PSD e o CDS deve-se ao juízo "muito negativo" que o chefe de Estado fez "dos acontecimentos das últimas semanas, desde a demissão de Vítor Gaspar".

"Foi muito negativo e não era remediado", afirmou.

"É uma realidade nova para a qual as pessoas têm que se adaptar e tomar medidas condizentes com ela, porque esta realidade não vai mudar. A atitude foi com certeza muito reflectida, pensada, não regressiva. Portanto, o senhor Presidente da República entendeu assumir as suas responsabilidades em pleno", sublinhou.

O Presidente da República propôs na quarta-feira, numa comunicação ao país, um "compromisso de salvação nacional" entre PSD, PS e CDS que permita cumprir o programa de ajuda externa e que esse acordo preveja eleições antecipadas a partir de Junho de 2014.

Cavaco Silva considerou também "extremamente negativo para o interesse nacional" a realização imediata de eleições legislativas antecipadas.

A declaração do chefe de Estado surgiu depois de ter ouvido todos os partidos com representação parlamentar e com os parceiros sociais e na sequência do pedido de demissão apresentado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, no dia 2 de Julho.
 
 

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