O dia em que Shakira bloqueou uma avenida de Lisboa

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Shakira durante um concerto em San José, na Costa Rica, em Abril de 2011 Juan Carlos Ulate/Reuters

Bailarinas de biquíni e plumas verdes, amarelas ou azuis. Carros com 30 anos para compor o cenário e muitas câmaras e holofotes. Shakira fez parar o trânsito numa das principais avenidas de Lisboa. Dançou ao frio, de vestido preto, e quase conseguiu passar despercebida.

“Não lhe posso dizer nada, não lhe posso dizer nada”, diz uma mulher loira, alta, de calções e braços bem cruzados para fugir ao frio. Depois, quase em segredo, conta que é a gravação de um videoclip da cantora colombiana Shakira que neste sábado à tarde interrompeu o trânsito na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa.

O aparato de seguranças, polícias e máquinas era grande, mas isso não impediu algumas dezenas de pessoas de ficar a espreitar. Alguns iam a passar a caminho do centro comercial e foram apanhados de surpresa, outros eram vizinhos que, na noite anterior, já tinham visto retirar os carros da Rua Andrade Corvo.

Maria, de 54 anos, estava avisada, mas não conta como. Chegou pelas 16h, viu as primeiras danças e coreografias. “Já a conhecia, gosto da música dela”, diz, a procurar entre ombros para ver se consegue voltar a ver Shakira.

Na estrada há carros antigos, parados, o trânsito só passa em meia avenida e quando não há gravações. Do outro lado ergue-se o prédio com o graffiti premiado em que um homem gordo coroado com os símbolos de petrolíferas bebe o mundo por uma palhinha, da autoria do artista de rua italiano Blu. E no meio? “Não a estás a ver?”, diz uma rapariga entusiasmada, a falar com a amiga e a apontar para a loira que conversa com os bailarinos, e que se cobre com um manto castanho porque, ao final da tarde arrefeceu em Lisboa.

Virgínia Celis, de 19 anos, estava avisada. Tinha perguntado a um polícia quando viu o aparato da noite anterior. “Soube que ela estava em Lisboa e vim vê-la. Já a vi passar três vezes do outro lado da rua”. Autógrafos é que nem pensar. “O que se está a fazer aqui é a passar frio”.

No centro da avenida há um homem de megafone a dar instruções, dirige-se aos operadores de câmara ou aos bailarinos. “Isto é um viodeoclip da Shakira, mas como assinei um papel não lhe posso dizer mais nada”, diz outro homem que está a tratar do som, junto aos holofotes, dos poucos que se encontra mais longe dos seguranças.

“Este aparato já está assim desde o início da tarde”, conta Luísa Borges, de 68 anos. Estava em casa, mora na rua, a música fê-la agarrar na carteira e calçar as sandálias para vir ver o que se passava. “É a Shakira, foi um jovem que me disse”, conta. Não será a fã mais entusiasta, mas teve curiosidade. Tal como Miguel Avelar, 21 anos, que estava de passagem a caminho de um dos centro comerciais que fica ali a poucos metros. “As pessoas começaram a dizer, depois vimos que era para um videoclip. Sabia que a Shakira ia fazer vários, e já a vi dançar três vezes à frente do prédio. Resolvi ficar um bocadinho, sempre é uma celebridade.”

Volta e meia, a música toca. Batida ritmada, ao jeito de Shakira. Há várias pessoas que tentam puxar do telefone para tirar uma fotografia, mas em pouco segundos ouvem a frase “não pode fotografar”. Seguranças privados impediam, por vezes com truculência, os cidadãos de tirarem fotografias na via pública, perante a passividade da polícia.

Quando soam os tambores, Shakira descobre os ombros e volta a ficar no seu vestido preto de Verão. Estará na hora de voltar a dançar.

Notícia corrigida às 12h55 de 1 de Julho:

corrige autoria do graffiti na Av. Fontes Pereira de Melo, que é do artista Blu e não do grupo Os Gémeos

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