Marques Mendes: "comparar Passos Coelho a Salazar é ridículo"

Luís Marques Mendes, antigo líder do PSD e actual comentador político no canal TVI 24, do cabo, diz que "comparar Passos Coelho a Salazar é ridículo e ofensivo".

Marques Mendes reagiu com muitas críticas às declarações de D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas, que comparou o actual primeiro-ministro ao homem que liderou a ditadura do Estado Novo.

Em declarações à TSF, D. Januário declarou-se “profundamente chocado” com o agradecimento de Passos à paciência dos portugueses, numa intervenção na quarta-feira comemorativa do primeiro aniversário da vitória do PSD nas legislativas de 2011.

Marques Mendes reagiu a isto nesta quinta-feira à noite no seu comentário semanal. "O elogio que o primeiro-ministro fez à paciência e à resistência dos portugueses foi uma atitude genuína, correcta e de grande sensibilidade política e social. É, de resto, um virar de página, uma mudança no discurso político de Passos Coelho", sustenta o antigo líder do PSD. Que acrescentou: "As declarações de D. Januário Torgal Ferreira a criticá-lo são declarações absolutamente inaceitáveis. No conteúdo e na forma."

D. Januário considerou que “Portugal não tem Governo neste momento, e vão certos senhores dar uma passeata um certo dia a fazer propaganda tipo União Nacional, de não saudosa memória, pelo país a dizer que somos os melhores do mundo. “Ao fim, ainda aparece um senhor que, pelos vistos, ocupa as funções de primeiro-ministro, dizendo obrigado à profunda resignação de um povo tão dócil e amestrado que merecia estar num jardim zoológico”.

Para Marques Mendes, "comparar Passos Coelho a Salazar não é só ridículo. É ofensivo."

O bispo foi, ainda, mais explícito. Retomando os elogios do primeiro-ministro à paciência dos portugueses que, no entender de Passos Coelho, se deve a “uma sociedade que está apostada em vencer as dificuldades e em resgatar o futuro”, D. Januário referiu: “Parecia-me que estava a ouvir o discurso de certa pessoa há 50 anos atrás”.

Marques Mendes respondeu: " Passos Coelho não assaltou o poder. Foi eleito de forma democrática, governa de modo legítimo, não é o responsável pela situação a que o país chegou e ainda por cima tem tido uma enorme coragem". Além disso, prosseguiu, "ninguém se recorda de o sr. Bispo ter criticado Sócrates quando deixou o país à beira da bancarrota". "O "senhor bispo não precisa de ser elogioso. Cada um tem as ideias que quer. O que não devia era ser insultuoso. E foi."

Não é a primeira vez que o bispo das Forças Armadas suscita celeuma. Há alguns anos, admitiu o preservativos em relações sexuais de risco. E, aquando de uma visita do primeiro-ministro Cavaco Silva a Macau e Pequim, sugeriu que o chefe do Governo devia defender os direitos humanos.

Frontal e polémico no que diz respeito a temas da doutrina moral e disciplinar da Igreja, D. Januário é tolerado apenas com condescendência por vários dos seus pares, que consideram as suas posições demasiado heterodoxas e olham de soslaio para a sua atitude crítica.

Marques Mendes considera que, além do conteúdo, também a forma "agressiva, crispada e intolerante" como o bispo se expressou não foi adequada. "Este homem prestou um mau serviço ao país, à Igreja e a si próprio".

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