Surtos de sarna em Cerci de Oeiras preocupam funcionários

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As pessoas infectadas com sarna estão a ser acompanhadas pelos médicos do Hospital Egas Moniz, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

A ocorrência de dezenas de casos de escabiose – doença mais conhecida por sarna – na Cercioeiras, uma cooperativa que acolhe pessoas com deficiência em Oeiras, está a preocupar alguns funcionários. Actualmente estão infectadas oito pessoas, mas o delegado de saúde que acompanha a situação garante que o problema está controlado.

Segundo o delegado de saúde de Oeiras, Amado Jacinto, há registo de surtos de sarna naquela Cerci desde 2010, mas “nunca houve mais do que dez pessoas infectadas” ao mesmo tempo. Mais recentemente, em Fevereiro, houve um novo surto que afectou três colaboradores e cinco utentes, que voltaram a apresentar sintomas nas últimas semanas.

“Estas pessoas são resistentes à terapia habitual [que consiste na aplicação do fármaco benzoato de benzilo] e terão de fazer um tratamento alternativo”, explica Amado Jacinto, acrescentando que o medicamento não é comercializado em Portugal e que foi solicitado apoio à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. “Estamos a aguardar.”

O caso, denunciado ao PÚBLICO sob anonimato, está a gerar apreensão em alguns funcionários da instituição, onde trabalham 85 pessoas. No entanto, a vice-presidente da Cercioeiras, Ivone Félix, desvaloriza a situação. “Não é alarmante, nem a doença nem a situação em si”, garante, frisando que “não se trata de uma epidemia”.

Ivone Félix sublinha que “tudo tem sido articulado com o delegado de saúde e com os especialistas do serviço de Dermatologia do Hospital Egas Moniz” e que o tratamento está a ser disponibilizado e aplicado em funcionários e utentes. Além disso, como é habitual no tratamento desta doença altamente contagiosa, “a roupa dos clientes e funcionários é posta num saco e lavada a 90 graus”, refere a vice-presidente.

A eliminação do ácaro que provoca a sarna é, no entanto, dificultada pelas características dos cerca de 500 utentes que frequentam a instituição. “São pessoas com deficiências profundas, que normalmente não colaboram no tratamento e com as quais há muito contacto físico”, explica o delegado de saúde. A cooperativa acolhe 50 pessoas em regime de internato e os colaboradores fazem visitas domiciliárias, o que torna “mais difícil” controlar a doença, refere.

Amado Jacinto afirma que “o importante é tratar os casos identificados e as pessoas que contactam com eles”. Embora compreenda os receios dos funcionários e utentes, uma vez que se trata de uma doença com um “estigma social”, o delegado de saúde sublinha que até agora poucos foram infectados, num universo de quase 600 pessoas que frequentam as instalações.

Também a sub-directora geral de saúde, Graça Freitas, considera não haver motivo para alarme, embora não conheça a situação de perto. "A sarna provoca incómodo mas não tem gravidade", afirma, acrescentando que o problema é facilmente controlável pelos médicos e pelo delegado de saúde local.

Doença é muito comum

A ocorrência de surtos de sarna não é, ao contrário do que se possa pensar, pouco comum. “Todos os anos há muitos casos, até porque a doença é facilmente propagável”, explica Mário Jorge Santos, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública.

Os ácaros que provocam a sarna vivem na pele e são transmissíveis através do contacto com a pele ou através da roupa e tecidos. "No Inverno é muito comum a transmissão ser feita através da partilha de cachecóis ou gorros", exemplifica. A doença provoca comichão e causa normalmente pequenas bolhas avermelhadas na zona infectada.

É uma doença com especial incidência em escolas e em instituições como lares, onde há um contacto muito próximo entre pessoas. “Uma vez identificada a doença, tem que se tratar todos os potenciais infectados em simultâneo, o que pode ser uma operação logística difícil”, admite o especialista.

Para a erradicação da doença, Mário Jorge Santos recomenda, além do fármaco, a limpeza e lavagem de todos os tecidos a altas temperaturas, o que pode impedir o funcionamento da instituição durante alguns dias. No entanto, “não é obrigatório encerrar” o espaço.

Segundo o médico, não há dados relativos ao número de casos registados por ano em Portugal uma vez que a doença não é de notificação obrigatória. O especialista alerta, porém, para o possível aumento dos surtos. “A recente decisão do Governo de aumentar o número de vagas em lares e o número de alunos por turma aumenta a possibilidade de transmissão da doença”, sublinha.

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