O Schumann de Jorge Moyano

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Jorge Moyano Fundação Calouste Gulbenkian
O que o fascina mais no Concerto de Schumann?

Agrada-me o facto de ser uma obra muito económica do ponto de vista do material temático. Tudo o que acontece sai daquele tema magnífico inicial que está ligado a Clara, a amada de Schumann. Ele aproveita as letras do nome, o C e o A, ou seja o dó e o lá [na notação alemã as notas são designadas por letras] e vai usando esse motivo ao longo da obra através de um processo muito engenhoso. Hoje é um Concerto tão conhecido que esquecemos que não foi concebido como um todo. O 1º andamento era para ser uma fantasia. Schumann dizia que era algo que estava entre os géneros da sinfonia, do concerto e da sonata, mas não teve sucesso, nem sequer conseguiu editar a obra. Só anos mais tarde se lembrou de lhe acrescentar o 2º e o 3º andamentos. O resultado é de uma grande unidade, acabou por se tornar numa obra chave do repertório romântico.

Quais são os maiores desafios que esta obra coloca ao intérprete?

No tempo de Schumann era normal os concertos estarem voltados para o aspecto virtuosístico, mas neste caso as passagens mais virtuosísticas têm a ver com o contexto poético da obra e não com demonstrações de capacidades do executante. Os grandes desafios estão relacionados com a exploração permanente de sonoridades e com a relação com a orquestra. O pianista tem de responder ao que está a ouvir. Por exemplo a gestão do “rubato” [acelerar ou desacelerar ligeiramente o andamento] vai depender da perspectiva do maestro. Tem de haver uma adaptação mútua.

A sua visão acerca da produção de Schumann tem mudado ao longo dos anos?

É inevitável ir descobrindo coisas novas. No caso de Schumann é habitual encontrar vozes secundárias, linhas melódicas que resultam de uma determinada sequência harmónica e que estão escondidas, mas que podemos tornar mais claras para quem ouve. A maturidade traz também um aprofundamento da sonoridade, da respiração em função dos fraseados e uma visão mais equilibrada de aspectos que antes realçava talvez de forma excessiva.

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