Cápsulas de ómega-3 poderão não prevenir doenças cardíacas

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Manson diz que têm sido inconsistentes as provas de que os suplementos são eficazes na prevenção de doenças cardíacas Adriano Miranda
Um estudo internacional

– cujas conclusões foram apresentadas nos “Archives of Internal Medicine” e que compilaram dados oriundos de 14 estudos – concluiu que não há diferença entre o número de casos de ataques cardíacos, enfartes ou mortes entre as mais de 20 mil pessoas com doenças cardíacas às quais foram aleatoriamente entregues fármacos contendo ómega-3 e placebos.

Apesar de ser de conhecimento, geral há vários, anos que os suplementos de ómega-3, especificamente aqueles contendo as substâncias EPA e DHA, poderão ajudar a combater as doenças cardíacas, os coordenadores desse estudo resolveram pôr à prova este “dado adquirido”.

“Há a percepção de que os suplementos de óleo de peixe são eficazes na prevenção de doenças cardíacas, mas na realidade as provas têm sido inconsistentes e inconclusivas”, disse JoAnn Manson, directora do departamento de medicina preventiva do Brigham and Women's Hospital, em Boston, que foi co-autora de um comentário inserido neste estudo.

“Isto é uma questão importante porque uma grande percentagem da população está a tomar suplementos de ómega-3 sem receita médica”, disse Manson à Reuters Health.

Investigadores da Coreia do Sul combinaram os resultados de 14 estudos internacionais que monitorizaram doentes cardíacos que tomaram, aleatoriamente, fármacos contendo ómega-3 e placebos – sem saberem qual dos dois estavam a tomar – em períodos que variaram entre um ano e cinco anos. Os estudos foram feitos em vários países, nomeadamente EUA, Índia, Itália, Holanda e Alemanha. Os doentes estavam, maioritariamente, na casa dos 60 anos e eram, sobretudo, homens.

As conclusões sugerem que os doentes que tomaram os suplementos de ómega-3 tinham tanta predisposição como os que tomavam placebos para sofrer “emergências cardíacas” ou mesmo morrer. No estudo conduzido na Holanda, por exemplo, concluiu-se que 14% das pessoas em cada um dos dois grupos teve um enfarte ou um ataque cardíaco – ou precisou de um cateter – durante um período de cerca de três anos e meio.

Também não foram registadas diferenças em número de mortes nem de problemas cardíacos entre os grupos de pessoas que tomavam doses elevadas e doses reduzidas de ómega-3 ou entre aqueles que tomaram suplementos apenas por um ano ou dois e entre aqueles que tomaram durante mais tempo, indicou Seung-Kwon Myung, do Centro Nacional do Cantro em Ilsan, Coreia do Sul.

Myung disse claramente, por email, à Reuters Health que não recomenda que as pessoas, com ou sem um historial de problemas cardíacos, tomem estes suplementos para prevenir problemas futuros.

“Neste momento não temos dados consistentes suficientes para sugerir tomas regulares de suplementos de óleo de peixes gordos”, disse por seu lado Alice Lichtenstein, nutricionista da Tufts University, em Boston, que não esteve envolvida neste estudo.

JoAnn Manson referiu ainda à Reuters que serão necessários mais estudos de longo prazo para se aferir da eficácia destes suplementos, mas recomenda que as pessoas continuem a tomar duas doses de peixe gordo por semana. “Os suplementos nunca serão um substituto para uma dieta saudável”, acrescentou.