PSP registou aumento de furtos de obras de arte em 2010, maioria de arte sacra

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Contudo, pela avaliação da PSP, "não há indícios de crime organizado" nestes furtos Rui Gaudêncio

A PSP registou 33 furtos de obras de arte em 2010, mais dez do que no ano anterior, sobretudo de azulejos e arte sacra, revelou hoje um responsável daquela polícia numa conferência, em Lisboa, sobre segurança do património.

O encontro, organizado pela agência Inova - Arte, Cultura e Indústrias Criativas, reuniu, além das forças de segurança que lidam com crimes de furto, roubo e tráfico de obras de arte, outros especialistas ligados ao sector, como galeristas e leiloeiros.

De acordo com o superintendente Flávio Alves, da PSP, a base de dados de furtos e tráfico de obras de arte aponta para um aumento de dez crimes entre 2009 e 2010, mas ressalvou que o primeiro trimestre deste ano parece indicar uma diminuição, com apenas seis crimes.

"O problema está caracterizado e sabemos que está focado sobretudo na arte sacra", concluiu, indicando que já em 2011 os seis crimes ocorreram em cidades de norte a sul do país, com o furto de azulejos e objectos de igrejas.

Segundo o oficial da PSP, o roubo e tráfico ilícito de obras de arte "é um tema actual e relevante porque pode tornar-se um mercado massificado devido à globalização e ao uso de novas tecnologias, que o facilitam".

Contudo, pela avaliação da PSP, "não há indícios de crime organizado" nestes furtos.

Por seu turno, João Oliveira, coordenador de investigação criminal da Polícia Judiciária (PJ), contrapôs que Portugal "é um país de risco devido a certas debilidades de segurança", e alertou sobretudo os proprietários privados.

"Uma peça pode ser roubada à noite em Portugal e nessa mesma noite passar para Espanha", indicou, acrescentando que pode seguir depois um circuito internacional que poderá levar à Suíça, Reino Unido, mercado asiático ou Estados Unidos, "e então será muito mais difícil encontrá-la, embora possa acontecer".

Nos registos da PJ, os casos de furto em Portugal têm vindo a diminuir desde 2008, com 233 ocorrências nesse ano, 200 em 2009 e 158 em 2010.

O "pico" em 2008 está relacionado com um surto de furtos de esculturas e estatuária em praças públicas e jardins privados, indicou.

João Oliveira disse igualmente que os furtos de azulejos também têm vindo a diminuir, mas alertou que, como medida de precaução, tantos os privados como os responsáveis de igrejas devem estar atentos porque os casos muitas vezes só chegam à PJ semanas ou meses mais tarde.

Comentou ainda, sobre o tráfico de falsificações, que a pintura "é a face mais visível do problema" e pode, sobretudo a nível internacional, envolver "verbas exorbitantes, porque estes circuitos vivem em contra ciclo da atual crise económica mundial".

O coordenador da PJ apontou ainda que o problema da falsificação a nível internacional é mais significativo do que se julga, e "há especialistas que dizem que mais de 40 por cento de obras expostas em galerias e museus são falsas".

Na conferência, galeristas e leiloeiros apresentaram ainda várias preocupações sobre a melhor forma de conseguir certificar obras cujos documentos não são disponibilizados pelos proprietários, e as dificuldades em colocá-las à venda quando não estão oficialmente inventariadas.

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