O adeus de Liedson, depois de 313 jogos e 170 golos

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Liedson era um dos símbolos do Sporting Hugo Correia / Reuters

O avançado regressa ao Brasil após sete temporadas no Sporting onde venceu duas taças de Portugal, duas Supertaças e o "título" de jogador com mais golos marcados no campeonato português no século XXI.

Liedson esteve para voltar à profissão de repositor de stock quando a sua dispensa do Flamengo esteve em cima da mesa, depois de ter falhado um golo incrível com a baliza aberta. O remate saiu fraco e, sobre a linha, o defesa Maicon (então no Cruzeiro, hoje no Inter) salvou o lance. Mas o avançado ficou no clube do Rio de Janeiro e acabaria por deixar tão boa impressão (15 golos em 29 jogos) que despertou o interesse do Corinthians, de São Paulo - aí passou apenas uns meses antes de rumar a Lisboa, para o Sporting, e, até, ganhar um lugar na selecção de Portugal. Agora, foi a vez do regresso ao clube que lhe abriu as portas da Europa.

Liedson da Silva Muniz, nascido em Cairu, município brasileiro do estado da Bahia, teve sete profissões antes de ser futebolista, com a tardia idade de 22 anos. A profissão que durou mais tempo foi num supermercado, uma mercearia que pertencia ao seu pai, e na qual era repositor de stock. Por isso, quando chegou a Alvalade em Setembro de 2003, os cânticos que se fizeram ouvir mencionavam o percurso do jogador: "Ele veio do supermercado, ele é um bom empregado" (ao ritmo da música "Volare" dos Gipsy Kings). Sete anos depois, deixou Alvalade, com muitos recordes de golos batidos, mas sem nenhum campeonato conquistado.

Quando era miúdo, dizia que era do Flamengo e do Vitória da Bahia, mas no Brasil dizem que "virou a casaca" quando se declarou adepto do Corinthians. Contudo, em Portugal defendeu apenas uma camisola. Era um jogador que "perturbava" os adversários, lembra ao PÚBLICO José Peseiro, o treinador que levou o Sporting à final da Taça UEFA em 2004 e ajudou o avançado a construir no clube leonino o recorde do jogador com mais golos nas provas europeias. Seria anos mais tarde, a 22 de Outubro de 2008, que Liedson entraria para a história, ao apontar o seu 19.º golo, frente ao Shakhtar, na Ucrânia, em jogo da Liga dos Campeões.

"Na minha altura, marcou 37 golos numa época", conta Peseiro. Um feito difícil de alcançar. Foi um jogador "determinante" para a temporada e meia que o técnico passou em Alvalade. "A equipa nesse ano foi a quarta com mais golos e ele marcou em todas as competições".

Venceu por duas vezes o título de melhor marcador da Liga portuguesa, nas épocas 2004/2005 (24 golos) e 2006/2007 (15 golos). Em sete temporadas de leão ao peito, venceu duas taças de Portugal, duas Supertaças e o "título" de jogador com mais golos marcados no campeonato português no século XXI.

Fez 313 jogos e marcou 170 golos. Diz que o defesa mais difícil que encontrou pela frente foi Ricardo Carvalho (jogou no FC Porto e agora está no Real Madrid) e o melhor guarda-redes que defrontou foi Helton (Leiria e FC Porto). E uma das suas vítimas preferidas era o Benfica, o que fazia as delícias dos adeptos do Sporting.

Estreou-se a 2 de Setembro de 2003 com a camisola verde e branca. Foi Fernando Santos que o lançou, no jogo nas Antas frente ao FC Porto de José Mourinho, que os "leões" perderam por 4-1. Não marcou e o técnico deixaria no ar uma frase enigmática no final do encontro: "Fez coisas interessantes, vamos ver".

Além da sua característica de avançado letal na área - o que o levou a ser naturalizado português e ser chamado à selecção por Carlos Queiroz na corrida ao Mundial da África do Sul-, é a capacidade de recuperar bolas que mais impressiona os treinadores. "No último terço do campo, é o que recupera mais bolas", conta Peseiro, o que torna o avançado um caso raro. "Conquista bolas e em muitos momentos ganha-se os jogos às custas da sua preponderância".

Foi isto que fez despertar Queiroz. A selecção estava em perigo de não se qualificar para o Campeonato do Mundo e o técnico preferiu Liedson. A 5 de Setembro de 2009, vestiu pela primeira vez a camisola de Portugal, marcando o golo que deu o empate na Dinamarca (1-1), num dos jogos decisivos do apuramento. Na África do Sul, disputou três dos quatro jogos da selecção e marcou por uma vez, na goleada à Coreia do Norte (7-0).)

"É um jogador raro, difícil de substituir", termina Peseiro. "Ele tem a noção do que é". Nos estágios tinha a alcunha de "sopas e descanso", comia e ia dormir. O oposto do que é em campo. Aí, ganhou dos adeptos a alcunha de "Levezinho" que "resolve" os jogos.

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