Vanessa Fernandes vai iniciar em 2011 o ano decisivo de uma carreira preenchida

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A atleta portuguesa ganhou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim Desmond Boylan / Reuters (Reuters)

Vanessa Fernandes, a melhor triatleta portuguesa - e possivelmente mundial - de sempre voltou a ser notícia no final deste ano, aquando da concentração da selecção nacional de triatlo no Algarve. O motivo? Teve dificuldades em ambientar-se inicialmente ao estágio, problemas que parecem, no entanto, ter sido resolvidos no final desse período. Esta foi uma maneira especial de quase terminar um ano de 2010 que marcou o que poderá vir a ser o fim de uma longa travessia do deserto.

Da mais prolífica triatleta de sempre, medalhada de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, a jovem de Perosinho (então apenas com 22 anos de idade) passou, num ápice, de uma superestrela a uma atleta em crise. E o que se sucedeu apenas veio confirmar essa ideia.

Pequim 2008 pareceu ser, na altura, apenas o fim de um primeiro ciclo de sonho para uma atleta revelada muito jovem, mas viria a confirmar-se como o início de uma fase cinzenta. De uma atleta superconfiante e quase imbatível, num desporto sobre o qual se diz privilegiar a maturidade, a portuguesa passava a estar recorrentemente lesionada, quando não acidentada (foi vítima de fracturas e de um atropelamento), desmotivada e sem confiança. E do início do ano pós-olímpico para diante deu sinais evidentes de quebra.

Um talento precoce

Relembre-se que Vanessa Fernandes começou a treinar-se muito jovem, com apenas cinco anos de idade, motivada pelo pai, o antigo ciclista Venceslau Fernandes. Aos 14 anos, já estava licenciada pela Federação Internacional de Triatlo. Aos 16, estreava-se em campeonatos europeus juniores, com um 18.º lugar, e no ano seguinte, em 2002, subia ao pódio dessa mesma competição com um terceiro posto.

Data de 2002, também, a sua estreia na Taça do Mundo absoluta, em Tiszaujvaros, na Hungria. Em 2003, sagrava-se campeã europeia júnior e nessa temporada venceria em Madrid a sua primeira competição da Taça do Mundo absoluta, naquela que viria a ser a sua prova talismã durante anos.

Foi uma arrancada sem paralelo nas seniores aquela que Vanessa protagonizou, com idade ainda de júnior. E tratou-se de uma subida sustentada, pois em 2004 conseguiria uma participação olímpica em Atenas, com um oitavo lugar, passando a partir de 2005 a coleccionar triunfos em provas da Taça do Mundo. Ganhou sempre a de Madrid entre 2003 e 2008; acabou por bater o recorde mundial de vitórias no principal circuito mundial na Taça do Mundo (20) e, entre os anos de 2006 e 2007, pareceu sobrehumana. Foi segunda classificada nos Mundiais de 2006, em Lausanne, e acabaria por se sagrar campeã mundial em 2007, em Hamburgo, vencendo, nesse período, com larga vantagem a classificação global da Taça do Mundo.

Os números não mentem e, analisados em retrospectiva, são tão espantosos como premonitores dos seus actuais problemas. Entre 2006 e 2007, Vanessa competiu em 22 triatlos ou duatlos (de facto, só em três duatlos) e ganhou ao mais alto nível por vinte vezes, só não o fazendo nos Mundiais de Lausanne de 2006, e na Taça do Mundo de Mooloolaba, na Austrália, no início de 2007.

A primeira desistência

Porém, 2008 começou com maus indicadores e com uma pessão acrescida sobre uma atleta ainda muito jovem, que era obrigada a ganhar sempre. Em Pontevedra, numa prova da Taça da Europa, sofreu a primeira desistência da carreira. Nos Mundiais de Vancouver acusou de novo as águas frias e foi apenas décima classificada. Logo a seguir, no último grande teste pré-olímpico, em Hamburgo, voltaria a desistir.

Não admira que Vanessa se refira à medalha de prata olímpica, obtida na China, como um alívio, mais do que uma proeza. A atleta reconhece agora implicitamente que terá competido demasiado e demasiado nova. Também confessou que passou a olhar mais para si e a pensar no que poderia aproveitar da vida uma rapariga jovem que antes só pensava em treinar e competir.

A crise de confiança levou a resultados totalmente diversos dos do período áureo, anunciados por um 16.º posto na Taça da Europa de Quarteira, em 2009. As desistências passaram então a ser mais regra do que excepção. Três vieram de seguida, em 2009, nos Mundiais de Kitzbuhel e nas Taças do Mundo de Londres e Goald Cost.

Vanessa cortou, entretanto, a ligação ao seu antigo técnico, Sérgio Santos, e deixou o Centro de Alto Rendimento do Jamor, voltando a casa e passando a ser orientada por Paulo Colaço. Um triunfo no início de 2010 na Taça da Europa de Quarteira parecia indicar que estaria de retorno ao seu melhor, mas os actuais limites foram confirmados com um 10.º lugar na sua prova-talismã, a Taça do Mundo de Madrid.

Foi o último triatlo que Vanessa completou, mas, após os problemas sentidos no início do seu estágio no Algarve, assegura agora que tem de novo os objectivos perfeitamente definidos. Aos 25 anos, quer marcar presença nos Jogos Olímpicos de Londres e encara o ano de 2011 como rampa de lançamento para lá chegar.

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