Morreu Claude Chabrol, o símbolo do cinema "à francesa"

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Claude Chabrol no Festival de Berlim, em 2009 Fabrizio Bensch/Reuters

"Claude era a própria alegria de viver, não consigo imaginar que ele tenha partido", afirmou Gérard Depardieu, protagonista de Bellamy, o mais recente filme de Claude Chabrol, reagindo ontem à morte, aos 80 anos, de um dos mais prolíficos realizadores do cinema francês da segunda metade do século XX.

Envolvido com os seus amigos François Truffaut e Jacques Rivette no lançamento da Nouvelle Vague, Claude Chabrol era já um crítico de cinema reconhecido, nos Cahiers du Cinéma, quando se estreou como realizador com Le Beau Serge, em 1959. Nos 50 anos seguintes dirigiu mais de 80 filmes para cinema e televisão, muitos deles centrados na descrição minuciosa e mordaz da burguesia francesa de província.

A sua morte, provocada por complicações decorrentes de um pneumotórax, foi ontem lamentada por realizadores e actores, mas também por políticos de todos os quadrantes, desde o ministro da Cultura, Frédéric Mitterrand, que elogiou o seu "olhar ao mesmo tempo malicioso e fulminante", até ao veterano líder da extrema-direita, Jean-Marie Le Pen, que foi seu colega em Direito, estudos que Chabrol abandonaria para se licenciar em Letras.

Todos os testemunhos realçam a sua energia e o seu gosto pela vida, bem como a sua reputação de gourmet. Diz-se que escolhia os cenários dos seus filmes na província em função da gastronomia local.

Mais "clássico" do que outros cineastas da Nouvelle Vague, como Truffaut, Godard, Rohmer ou Rivette, nem por isso a sua obra tem uma marca autoral menos intensa, como salienta o director da Cinemateca Francesa, Serge Toubiana, notando que Chabrol foi não apenas o cineasta francês que fez um maior número de filmes na segunda metade do século XX, mas também o autor de "uma obra de uma extrema coerência, incrivelmente forte". Manoel de Oliveira argumenta no mesmo sentido, quando, reagindo a esta morte, afirma que realizadores como Chabrol "já não pertencem à Nouvelle Vague ou a outra coisa qualquer, pertencem a eles próprios".

Nascido em Paris, numa família de farmacêuticos, Chabrol começou a escrever para os Cahiers du Cinéma quando ainda frequentava a universidade e ia ganhando algum dinheiro com dedicatórias falsas de Hemingway e Faulkner, que impingia aos snobs parisienses. Casou-se novo com uma herdeira de uma família rica, o que lhe permitiu criar uma produtora, que arrancou com uma curta-metragem de Rivette.

Os seus primeiros filmes, como Le Beau Serge, um drama de província, ou Les Cousins, passado em Paris, mostram já esse olhar impiedoso, mas ao mesmo tempo bem humorado, sobre a burguesia francesa e os seus costumes que iria constituir uma das imagens de marca do seu cinema.

Em 1964 casou-se em segundas núpcias com a actriz Stéphane Audran, que protagonizará muitos dos seus filmes nos anos 60 e 70, fase em que Chabrol realiza vários policiais, entre os quais o notável Requiem para Um Desconhecido (1969). Mas a actriz de Chabrol por excelência irá ser Isabelle Huppert, que faz a sua primeira aparição em 1978, em Violette Nozière, e que protagonizará boa parte dos seus filmes dos anos 80 e 90. Na sua página do Facebook, a actriz publicou ontem uma mensagem que dizia apenas o essencial: "Claude Chabrol deixou-nos".

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