Lisboa disse adeus ao museu automóvel que nunca existiu

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Espaço será demolido para dar lugar a uma urbanização Foto: DR

O Museu Fernando Pessa foi criado a partir do antigo carro do jornalista, mas o espaço viu agora partir os clássicos que abrigava.

Pode um museu municipal funcionar quase nove anos sem nunca ter existência formal? Em Lisboa, pode. O Museu Municipal Fernando Pessa foi anteontem esvaziado do último automóvel de entre os mais de 40 clássicos que exibia.

Foi em Novembro de 2001 que o então presidente da câmara, João Soares, inaugurou o Museu Municipal Fernando Pessa. O jornalista, como garantiu à revista AutoMotor (Abril 2002), nem queria o seu nome no museu. Mas lá ficou, como espécie de homenagem da cidade. O seu velho Rover 2000, de 1966, foi guardado num pavilhão do antigo mercado abastecedor de Lisboa, à Av. das Forças Armadas. "Contactámos pessoas que tinham carros antigos e assim nasceu o museu", recorda Armando Rodrigues, parceiro de andanças de Pessa.

O museu abriu regularmente nos primeiros meses. Mas depois funcionava ao ritmo dos contactos, por exemplo, "do turismo de Lisboa para mostrar o museu a visitantes estrangeiros". Os executivos camarários foram mudando sem a criação formal do museu. "Houve um protocolo que ficou por assinar à última hora", conta Armando Rodrigues, sem resposta às diligências para dinamizar o espaço. Isto até ao final do ano passado, prazo dado pela EGEAC, empresa municipal que gere os equipamentos culturais municipais de Lisboa, para que o espaço fosse desocupado. "Sinto-me enganado, mas, por outro lado, também um grande alívio pela responsabilidade em ter ali os carros", comenta o entusiasta dos automóveis. É que entre as relíquias figuraram um Mercedes 28/95 (1921), com carroçaria em madeira; um Peugeot 81.B (1906), oferecido ao médico da família da marca Peugeot; um Bentley Speed (1924); um Darracq (1901), ou um Cottin & Desgouttes (1913).

A Câmara de Lisboa, em Abril de 2009, promoveu uma exposição sobre viaturas históricas do município no "Museu Municipal Fernando Pessa". No entanto, para Paulo Braga, administrador da EGEAC, o espaço "não é mais do que um depósito" de carros, sem projecto museológico. Agora, o pavilhão será demolido ao abrigo do Plano de Urbanização de Entrecampos e a autarquia pagou 4000 euros para entregar os veículos aos donos. "Não se pode dizer que a cidade perdeu um espaço museológico, porque não o era", frisa Paulo Braga. É fácil adivinhar o que diria Fernando Pessa, se ainda por cá andasse: "E esta, hem?"

Rali em risco

O Museu Municipal Fernando Pessa recuperou em 2005, com o apoio da autarquia sintrense, o RaliAs Camélias de Sintra, desta feita com automóveis antigos, como forma de contornar as restrições ambientais do Parque Natural de Sintra-Cascais. A câmara presidida por Fernando Seara disponibilizou-se para receber o museu, mas Armando Rodrigues admite que Pessa estava muito ligado a Lisboa, cidade onde o museu fazia sentido. Com o fim do museu, o próprio Rali das Camélias deverá desaparecer. Este ano já não se realizou aquela que seria a sexta edição. Na calha poderá estar, contudo, a realização em 2011 do Rali do Sintrense, outra prova clássica, no centenário do clube de Sintra.

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