Donos de carrosséis já só pedem que os deixem trabalhar

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Nuno Ferreira Santos

Depois dos protestos em Lisboa, os empresários que possuem equipamentos de diversão batem-se pelas inspecções para poderem "seguir para as festas".

Rodeado por homens que gritam e se acotovelam, Luís Paulo Fernandes, presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Diversão, volta a pousar sobre a mesa as folhas de papel que se preparava para distribuir e fecha os olhos, com ar cansado. Há discussões sobre quem deve estar na primeira ou na segunda linha, insultos, empurrões - todos querem o formulário para pedir a inspecção dos equipamentos de que são proprietários, como carrosséis ou pistas de carrinhos de choque. "Vê? Ninguém foge à inspecção. As pessoas só querem seguir para as festas, só querem trabalhar", comenta Leonel Antão, presidente da mesa da assembleia geral.

A reunião das largas dezenas de empresários no salão dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande ainda vai a meio, e a pressa na obtenção do formulário tem a ver com as conquistas que resultaram das manifestações dos dias anteriores, em Lisboa. A partir do momento em que pedirem a inspecção, os empresários podem colocar os equipamentos a funcionar. Para além disso, a inspecção não será feita de acordo com "a lei cega" de Setembro passado, mas segundo um guia aprovado pelo Instituto Português de Qualidade com exigências que a associação considera razoáveis.

"Vamos ver se isto resulta. Se não, teremos de voltar à luta e exigir a revogação da lei", dissera Luís Paulo Fernandes, que agora, cansado, volta a pedir que passem à frente, para receber "a papelada", os que querem "fazer as festas de Fevereiro".

O cansaço de dias de protestos em Lisboa, somado ao de várias horas de reunião, ontem, não ajudava a acalmar os ânimos. Os que enrouqueceram a gritar contra o Governo forçavam a voz contra os que não participaram nas manifestações e estendiam a mão para beneficiarem dos resultados da luta. "Onde é que estavas enquanto eu apanhava da polícia!?", perguntou alguém.

Todos sabem quem foi e quem não foi à manifestação, tratam-se por tu, usam diminutivos e alcunhas, estão em casa - por alguma razão chamam a Pedrógão Grande a "Capital dos Carrosséis". O peso das empresas de diversão é tal que o presidente da câmara, João Marques, não hesita ao calcular que um quinto dos cinco mil residentes no concelho depende directa ou indirectamente da actividade.

Luís Paulo Fernandes diz que a aplicação rigorosa da legislação seria "uma tragédia". "Querem que cumpramos normas que se destinam aos fabricantes! O equipamento em que investi 150 mil euros em 2004 ficaria inutilizado por ter menos três centímetros do que o definido para a distância entre a base e a cobertura da pista de carrinhos de choque", exemplifica, para ilustrar "o absurdo".

João Marques concorda e diz não perceber "como pode qualquer Governo fazer leis contra as pessoas". "Não há noção do impacte diabólico que a falência destes empresários teria nesta zona do pinhal interior. Seria a machadada final", assegura.

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