Instituições devem reorganizar-se para promover solidariedade intergeracional, alerta especialista

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A população mais velha pode continuar activa até mais tarde Enric Vives Rubio

A Coordenadora do Projecto Europeu MATES - Mainstreaming Solidariedade Intergeracional apelou hoje, no Porto, às instituições que cuidam apenas de idosos ou somente de crianças e jovens para que reformulem as suas actividades de modo a integrar diferentes gerações.

Em declarações à Agência Lusa, Teresa Almeida Pinto, revelou que esta proposta integrará o "Guia de Ideias para planear e implementar práticas intergeracionais" que o projecto Mates está a elaborar.

Este guia será traduzido nos 22 idiomas da União Europeia e terá distribuição massiva entre as instituições-chave: escolas, lares, jardins-de-infância e ATL´s, entre outras.

O projecto Mates será apresentado que vai reunir peritos europeus nesta problemática e que terá também como objectivo reunir sugestões/propostas para integrar o Guia.

A Associação VIDA - Valorização Intergeracional e Desenvolvimento Activo é a entidade promotora e coordenadora deste projecto que envolve mais três instituições de Portugal, Estónia e Grécia.

De acordo com Teresa Almeida Pinto, actualmente na Europa cada quatro trabalhadores (15-64 anos) contribui para as pensões sociais de um idoso, mas em 2050 esta relação será de dois trabalhadores para um idoso.

Em Portugal, a população com 65 ou mais anos já representa 17,3 por cento e são cerca de 4,1 por cento os que têm mais de 80 anos de idade.

"Este conflito aparente entre a Europa social e economicamente robusta, deixa um espaço de actuação muito largo para que a sociedade civil se mobilize no sentido de aproximar as gerações, minimizar conflitos e construir espaços de convivência mais humanos", defende a coordenadora do Projecto Mates e dirigente da Associação Vida.

No entender da Teresa Almeida Pinto, o envelhecimento da população coloca de imediato várias questões de urgente resposta: "Quem cuida dos idosos? É uma responsabilidade do estado, das famílias ou das estruturas da comunidade?".

O aumento da longevidade permite que seja biologicamente possível a convivência de quatro gerações diferentes, mas "as transformações dos modelos sociais e da estrutura da sociedade tornam muitas vezes impossível esta convivência", sustentou.

Apontou, como exemplo, a imigração e migração para as zonas litorais e urbanas, em busca de emprego, que deixa para trás, no interior rural, a população dita não activa (maiores de 65 anos), e as zonas históricas dos grandes centros urbanos, que "estão povoadas de velhos que vivem muitas vezes em casas sem elevador, exíguas para acolher os seus filhos, netos e parentela".

"São os guetos urbanos dos velhos que dificilmente saem à rua, vetados de qualquer tipo de envelhecimento activo", lamentou a responsável.

Por outro lado, frisou Teresa Almeida Pinto, "o aumento do número de divórcios e de segundos casamentos, onde é necessário estabelecer regras e rearranjos familiares para integrar os 'meus filhos'/'teus filhos'/'nossos filhos', deixa de lado os avós, órfãos de netos".

O aumento da taxa de emprego das mulheres, o aumento da idade da reforma e incentivos ao aumento da taxa de emprego dos que têm mais de 50 anos, afasta também do seio familiar os tradicionais cuidadores: mães e avós.

Com este cenário, considera Teresa Almeida Pinto, a questão impõe-se: "Quando você for velho quem cuidará de si?".

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