Marcelo Rebelo de Sousa abandona TVI após conversa com Paes do Amaral

Foto
Marcelo Rebelo de Sousa fazia comentários políticos ao domingo no telejornal da TVI desde 13 de Maio de 2000 Manuel Gomes/PÚBLICO

O ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa anunciou hoje que vai deixar de fazer comentários na TVI, na sequência de uma reunião a pedido de Miguel Paes do Amaral, presidente da Media Capital.

"Na sequência de uma conversa da iniciativa do presidente da Media Capital, Miguel Paes do Amaral, decidi cessar, de imediato, a colaboração na TVI, a qual sempre pude livremente conceber e executar durante quatro anos e meio", declarou Marcelo Rebelo de Sousa à agência Lusa.

Marcelo Rebelo de Sousa fazia comentários políticos aos domingos no "Jornal Nacional" da TVI desde 13 de Maio de 2000.

Em declarações à Lusa, na segunda-feira, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, disse que se sentia "revoltado com as mentiras" e com as "falsidades" proferidas todos os domingos "por um comentador que tem um problema com o primeiro-ministro".

"Em toda a Europa, trata-se de um caso único. Não há em país algum uma pessoa a perorar 45 minutos sobre política sem ser sujeita ao contraditório e apenas a defender os seus interesses pessoais", afirmou Rui Gomes da Silva.
No seu último comentário na TVI, no domingo, Marcelo Rebelo de Sousa criticou a tolerância de ponto de segunda-feira concedida pelo Governo de Santana Lopes, dizendo que essa decisão "é pior do que o pior" do ex-primeiro-ministro António Guterres.

Segundo Rui Gomes da Silva, "nem o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda juntos conseguem destilar tanto ódio ao primeiro-ministro e ao Governo como esse comentador [Marcelo Rebelo de Sousa], que, sob a capa de comentário político, transmite sistematicamente um conjunto de mentiras com desfaçatez e sem qualquer vergonha".

Ontem, e apesar das forte críticas, Rui Gomes da Silva negou qualquer intenção do Governo de acabar com os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, reiterando o seu entendimento de que a Alta Autoridade para a Comunicação Social deveria "exigir o contraditório" na intervenção do ex-presidente do PSD naquela estação de televisão.

PSD lamenta fim do comentário, PS e BE criticam Governo

O PSD lamentou hoje o fim do comentário de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI e escusou-se a admitir a possibilidade de a estação de televisão ter sido pressionada pelo Governo sobre esta questão.

"Acredita que uma televisão como a TVI possa ser pressionada?", questionou o secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, em resposta aos jornalistas, à margem da sessão plenária da Assembleia da República.

"O PSD lamenta que este programa tenha terminado. Sempre defendemos o pluralismo na comunicação social", afirmou Miguel Relvas.

O secretário-geral dos sociais-democratas defendeu que, "para lá do programa de Marcelo Rebelo de Sousa", deveriam existir outros "onde o PSD e outros partidos pudessem defender os seus pontos de vista".

Questionado sobre se concorda com as críticas do ministro dos Assuntos Parlamentares a Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário-geral do PSD afirmou "não estar em desacordo".

"O PSD sempre defendeu que a Alta Autoridade para a Comunicação Social exerça a plenitude dos seus poderes para assegurar o pluralismo da comunicação social", disse Miguel Relvas.

No período de antes da ordem do dia, também PS e Bloco de Esquerda abordaram este tema.

Sem nunca referir o nome de Marcelo Rebelo de Sousa, o líder parlamentar socialista, António José Seguro, acusou o Governo de silenciar as vozes críticas.

"O PS dá-se muito bem com a crítica, não silencia a voz de ninguém por mais incómoda que possa ser", afirmou Seguro, numa declaração política destinada a apresentar as conclusões do Congresso do PS, que decorreu no passado fim-de-semana, em Guimarães.

Mais à frente, o líder da bancada socialista atirou mais uma farpa ao Executivo: "O que o país precisa é de pluralismo democrático onde todos tenham direito a dar a sua opinião e não sejam silenciados".

Mais directo foi o Bloco de Esquerda, que acusou o Governo de "delírio antropofagista, em que a maioria se come a si própria".

"Na ânsia de controlo da comunicação social está disposto a tudo, até a atropelar Marcelo Rebelo de Sousa", acusou o dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã.

"Faça o que fizer, custe o que custar, esta maioria quer o poder e não quer nenhum debate crítico", afirmou.

Sugerir correcção
Comentar