Por humor se mata, por humor se morre

“Processo ou técnica literária que combina o tom jocoso ou irónico e prazenteiro com a crítica às instituições, aos indivíduos, às ideias ou aos costumes”, lê-se no dicionário, que logo dá um exemplo: “Um jornal dedicado à crítica e à sátira.” Como o Charlie Hebdo, alvo de um ataque na quarta-feira em Paris. Morreram 12 pessoas.

Comparando com outros ataques e tragédias, pode até parecer desproporcionado o negro de tantas capas de jornais. Não aconteceu, por exemplo, quando, no final de 2014, uma escola no Paquistão sofreu um também bárbaro atentado. Morreram 140 pessoas, a maior parte crianças e adolescentes.

Mas o episódio de Paris tem um peso simbólico maior para as redacções. Foi “um atentado à liberdade”, “um assalto à democracia”, um “crime contra a liberdade”, a “liberdade assassinada”, escreveu-se em diferentes manchetes de publicações de vários países ocidentais. Outras, mais assertivas, ditaram o futuro, “eles não matarão a liberdade”, “continuemos o combate”, “viva a liberdade”.

Na definição de “sátira”, o dicionário não fala especificamente de cartoon, mas de “obra crítica, picante, irónica ou jocosa”. Os irmãos Kouachi e Hamyd Mouradi (autores do atentado) não souberam perceber o que isso é. O pior é que não estão sozinhos.

Em resposta às mortes, em particular às do director e desenhador Stéphane Charbonnier (Charb) e dos cartoonistas Jean Cabu, Georges Wolinski e Bernard Verlhac (Tignous), dezenas de ilustradores responderam com as suas armas: o desenho, a criatividade e o humor. Sem medo. Lápis e canetas são os elementos que mais se repetem nas imagens, divulgadas nas redes sociais com a hashtag #JeSuisCharlie. Mas também se reproduz a ideia de que o humor mata. E tudo isto porque “Deus é grande”. Ninguém diria.

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