Há vida no meio das ruínas da maternidade de Mossul

Hospital continua com falta de camas, equipamento e medicamentos, mas voltou a respirar depois do Estado Islâmico ter sido expulso da cidade iraquiana.

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Recém-nascidos na unidade de cuidado intensivo do hospital Reuters/AZAD LASHKARI
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O hospital foi danificado quando o Estado Islâmico detinha Mossul Reuters/AZAD LASHKARI
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Recém-nascidos na unidade de cuidado intensivo do hospital Reuters/AZAD LASHKARI
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O hospital foi danificado quando o Estado Islâmico detinha Mossul Reuters/AZAD LASHKARI
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Pessoas na maternidade Reuters/AZAD LASHKARI
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A fachada do hospital Reuters/AZAD LASHKARI
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Equipamento médico danificado no exterior do hospital Reuters/AZAD LASHKARI
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Uma sala destruída do hospital Reuters/AZAD LASHKARI
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Uma sala destruída do hospital Reuters/AZAD LASHKARI

Os bebés gémeos, que ainda não têm nomes, estão numa incubadora num quarto degradado da principal maternidade de Mossul, no Iraque. Com menos de duas semanas, são dois dos sete recém-nascidos amontoados numa sala improvisada para bebés prematuros.

Nascidos três semanas depois de as forças iraquianas terem declarado a reconquista da última parte da cidade ainda em posse do Estado Islâmico, os gémeos não saberão o que é crescer sob o governo draconiano dos jihadistas. Mas a sua sorte não se esgota aí: se tivessem nascido alguns meses antes, as suas hipóteses de sobrevivência teriam sido bem menores, pois as alas neonatais do hospital tinham sido incendiadas pelos extremistas.

O Hospital al-Khansa, no leste de Mossul, pode ser uma sombra do que já foi, mas continua a ser a principal maternidade pública da cidade. Só no último mês, e apesar da grave escassez de medicamentos e de equipamento, viu nascer quase 1400 bebés.

Quando o Estado Islâmico tomou Mossul, em 2014, o hospital manteve-se aberto – mas os residentes só estavam autorizados a usar uma pequena parte.

“Os combatentes traziam as suas mulheres para darem à luz aqui”, conta Aziz, médico e administrador do hospital, acrescentando que perdera a conta do número de bebés de extremistas nascidos na unidade. “Os residentes de Mossul vinham sempre em segundo lugar.”

No ano passado, quando as forças iraquianas começaram a campanha para libertar Mossul do controlo do Estado Islâmico, os extremistas tomaram al-Khansa, expulsando pacientes e chegando a disparar contra o pessoal do hospital para fazer as pessoas sair. “Mantivemo-lo aberto durante o tempo que conseguimos”, diz Aziz.

O Estado Islâmico transformou o hospital num armazém para guardar provisões médicas, principalmente injecções de glicose e xarope para a tosse. À medida que a derrota parecia iminente, os jihadistas incendiaram e fizeram explodir grande parte do hospital.

“Eles sabiam exactamente o que destruir e como causar maiores danos”, afirma Aziz enquanto percorre os restos carbonizados das salas de operações.

“Temos falta de tudo”

O Hospital al-Khansa reabriu escassas semanas apóso leste de Mossul ter sido libertado dos extremistas, em Janeiro. Mas ainda passa por necessidades dramáticas. “Temos falta de tudo”, diz o director do hospital, o médico Jamal Younis. “Camas, equipamento, medicamentos…”

Actualmente, o hospital só consegue lidar com nascimentos e óbitos, revela Younis. Para tudo o resto, os pacientes têm de se dirigir a unidades hospitalares a quilómetros de distância – uma despesa incomportável para a maior parte.

Num quarto quente e apinhado, Um Mohammad senta-se junto ao seu neto, de apenas alguns meses de idade e que quase não se consegue mexer. A mulher afirma estar ali há quinze dias a tentar arranjar 25 dólares para pagar um conjunto de análises ao sangue.

Mohammad vive num campo de refugiados desde que um ataque aéreo lhe destruiu a casa na zona ocidental de Mossul, matando a sua filha e cinco dos seus netos. “Não posso levá-lo de volta para o campo sem tratamento ou diagnóstico, mas não tenho o dinheiro”, diz a mulher.

O hospital ainda não recebeu fundos do Ministério da Saúde para iniciar a reconstrução. A instituição tem-se mantido à custa de organizações não-governamentais e de doações de residentes e funcionários – a maior parte dos quais não recebe há mais de dois anos, desde que Bagdad cortou os salários com o intuito de asfixiar o financiamento do Estado Islâmico.

“Quando a cidade estava sob o controlo do Estado Islâmico éramos obrigados a vir trabalhar todos os dias ou eles castigavam-nos – confiscavam-nos as casas, batiam-nos, ameaçavam as nossas famílias”, conta Aziz. “Mas agora, embora continuemos sem receber e as paredes estejam destruídas, estamos felizes por todos os dias podermos ajudar a comunidade.”

 

Tradução de António Domingos

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