A família de um antigo comandante-em-chefe do Exército chileno vai processar o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, por conspiração no assassinato do general Rene Schneider, em 1970.

A família do general chileno afirma que o seu sequestro (na sequência do qual foi assassinado) foi organizado e pago pela CIA (Central Intelligence Agency, serviços secretos dos EUA), sob instruções do ex-Presidente Nixon e de Kissinger. O processo será apresentado esta semana junto do Tribunal Federal de Washington, segundo declarações dos familiares ao programa "60 Minutos", da CBS.O filho do general, também ele Rene Schneider, explicou que o pai se opunha a um golpe de Estado contra Salvador Allende, sendo um obstáculo para as pretensões da Casa Branca de afastar o Presidente chileno socialista. "Enquanto foi comandante-em-chefe, disse várias vezes que achava que o Exército não devia ter poderes políticos, pois isso significaria uma ditadura e o fim da democracia", contou Rene Schneider.
Henry Kissinger, na altura do assassinato do general conselheiro de Nixon para a Segurança Nacional (só depois foi secretário de Estado do Presidente) recusou-se a prestar declarações à CBS, mas desmentiu qualquer envolvimento na morte de Schneider em declarações precedentes.
Um inquérito do Senado, realizado em 1975, afirmava que os EUA apoiaram efectivamente o golpe de Estado contra Allende e conduziram à instauração da ditadura militar do general Pinochet. Kissinger afirmou, na sua audiência, ter deixado de apoiar os conspiradores uma semana antes do assassinato de Schneider.
Esta acusação contra Kissinger ocorre numa altura em que vários países anunciam a intenção de interrogar o ex-secretário de Estado pelo papel desempenhado nos sequestros na América Latina desde a sua entrada em funções. Responsáveis argentinos querem questionar Kissinger sobre o que sabia acerca do Plano Condor, que estabeleceu uma cooperação entre as várias ditaduras militares sul-americanas na eliminação dos opositores políticos nos anos 70 e 80. Juízes francês e chileno pretendem igualmente julgá-lo por violações do direitos humanos no Chile, sob a ditadura de Pinochet.