Há cada vez mais crianças-soldado a morrer em nome do Estado Islâmico

Um grupo de investigadores da Universidade do Estado da Geórgia analisou dados de 89 crianças que morreram a combater nas fileiras dos jihadistas.

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Apoiantes do Estado Islâmico em Raqa, na Síria REUTERS

O autodesignado Estado Islâmico (EI) tem mobilizado jovens e crianças para a suas fileiras a uma velocidade sem precedentes. Num estudo da Universidade do Estado da Geórgia, investigadores recolheram e analisaram dados relativos a fotos divulgadas pelo grupo extremista – como forma de propaganda – de 89 crianças que morreram entre Janeiro de 2015 e Janeiro de 2016, tendo-se tornado posteriormente mártires para os membros e seguidores do Daesh (acrónimo árabe para o EI).

O número de crianças que morreram a combater pelo EI no último ano é praticamente o dobro do que as anteriores estimativas estipulavam, segundo conclusões do mesmo estudo. Os dados recolhidos revelam também que 60% das crianças têm idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos, enquanto 6% estão entre os 8 e os 12.

Segundo o relatório, mais de metade das crianças são sírias, apesar de a maior parte delas ter morrido no Iraque, o que demonstra a capacidade do Daesh em treinar crianças-soldado na Síria e em enviá-las de seguida para o país vizinho. Para da Síria e do Iraque, registam-se ainda crianças-soldado mortas em operações no Iémen, na Líbia ou na Nigéria.

Os resultados do estudo são arrepiantes. Trinta e nove por cento das crianças morreram ao detonar um dispositivo explosivo improvisado contra um determinado alvo, 33% morreram enquanto soldados no terreno em operações de batalha não especificadas, 6% enquanto propagandistas alistados em unidades de combate e 4% em ataques suicidas em massa contra civis. Os restantes 18% foram considerados "inghimasis", ou seja, combatentes que morrem em operações em que se infiltram e atacam uma posição inimiga com armas automáticas, antes de detonarem um colete suicida.

“O que estes dados demonstram é o facto de a utilização de crianças estar mais do que normalizada”, afirmou Charlie Winter, um dos autores do estudo, à CNN. “Elas [crianças] não são utlizadas apenas para chocar as pessoas nos vídeos de execução. Estão a ser usadas pelo seu valor operacional. Isto é algo que, infelizmente, esperamos que continue a aumentar e a acelerar enquanto a situação se for tornando cada vez mais precária para o Estado Islâmico nos próximos tempos.”

Os resultados sugerem também que o recrutamento de crianças e jovens para fins militares pelo Estado Islâmico tem vindo a aumentar substancialmente. Numa base mensal, o número de jovens que morreram em operações suicidas aumentou de seis em Janeiro de 2015 para 11 em Janeiro de 2016. O número de operações a envolver uma ou mais crianças triplicou no último ano.

“O Estado Islâmico está a integrar crianças no seu projecto de uma forma que é mais reminiscente de um estado do que de um actor não estatal. Estão a pensar no longo prazo. Não se trata apenas de trazer crianças para as suas fileiras e utilizá-las no campo de batalha. O que estão a fazer é trazê-las, doutriná-las, treiná-las, passando muito tempo a incutir-lhes a ideologia jihadista”, afirmou Mia Bloom, outra das autoras do estudo, à mesma estação televisiva norte-americana.

A presença de jovens em organizações extremistas e violentas não é exclusiva do Estado Islâmico. Grupos extremistas como os taliban no Paquistão e no Afeganistão, os rebeldes houthi no Iémen ou o Hezbollah no Líbano têm, frequentemente, adolescentes a combater nas suas fileiras. Contudo, o caso do Daesh é diferente.

Há muito tempo que o autoproclamado califado tem revelado a sua intenção de criar a próxima geração de jihadistas, chamando-lhes “os filhos do califado”. Numa publicação recente da sua revista em versão inglesa, Dabiq, o grupo extremista encoraja mães a sacrificarem os seus filhos para os entregar ao grupo.

“É interessante a forma como os pais estão a possibilitar o acesso da organização [Daesh] às suas crianças”, reiterou Bloom à CNN. “Não se trata de um comportamento coercivo como aquele que vemos em África. As crianças não estão a ser raptadas nem coagidas. Na maior parte das vezes assistimos a crianças com um enorme sorriso.”

Um dos casos mais recentes que comprova esta ideia é a foto publicada pelo Daesh de uma criança entre os 8 e os 12 anos a dizer adeus ao seu pai. Esta criança morreu, posteriormente, num ataque suicida em Janeiro, na província de Alepo, durante um ataque suicida a um alvo rebelde.

O estudo da Universidade do Estado da Geórgia realça ainda que os dados recolhidos relativamente a estas 89 crianças são apenas parte de um fenómeno de grande dimensão. Os investigadores estimam que existam pelo menos 1500 crianças a combater nas fileiras do Daesh. 

Texto editado por Joana Amado

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