Identificados 17 corpos queimados que podem ser dos desaparecidos no México

Terceira avaliação a pedido do Governo mexicano avança que data em que os corpos foram incinerados coincide com a do desaparecimento de 43 estudantes em 2014.

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Uma das muitas vigílias que as famílias e amigos fizeram assim que os jovens desapareceram REUTERS/Bernardo Montoya

Pelo menos 17 pessoas foram incineradas num aterro em Cocula, no sul do México, na noite do desaparecimento de 43 estudantes da escola de magistério rural de Ayotzinap em 2014, revela uma nova investigação feita a pedido do Governo mexicano.

Restos de ossos fornecem "provas suficientes" para determinar que pelo menos 17 adultos foram queimados naquele lugar, em Setembro de 2014, declarou Ricardo Damián Torres, um dos peritos que analisou os vestígios.

Esta nova conclusão dá força à versão do Governo de que os 43 jovens raptados foram mortos e incinerados neste aterro do estado de Guerrero, que fica perto da cidade de onde os jovens desapareceram, Iguala, após uma marcha de protesto contra reformas no sistema de educação. Foram vistos pela última vez a entrar em carros da polícia, no dia 26 de Setembro de 2014.

Em Iguala, que fica no estado de Guerrero — controlado pelo cartel Guerreros Unidos —, a polícia é dominada pelos narcotraficantes. Mas a investigação concluiu que a prisão dos jovens foi determinada pelo então presidente da câmara de Iguala, José Luis Abarca e pela sua mulher, Maria de los Ángeles Pinedo. Ambos estavam relacionados com o narcotráfico e Maria de los Ángeles ia entrar na política, candidatando-se ao cargo do marido nas eleições de 2015, e tinha marcado um comíciio no dia em que os estudantes passaram por Iguala. 

Segundo escreveu o jornal El Universal, citando um relatório do Centro de Investigação e Segurança Nacional (Cisen, na sigla em espanhol), depois de o casal ter sido detido, em Novembro de 2014, a mulher do autarca pediu ao director da polícia municipal, Felipe Flórez Velázquez, que fizesse o que fosse preciso para impedir que o protesto estudantil estragasse a cerimónia de lançamento da sua candidatura. O pedido não causou o mínimo constrangimento a Flórez Velázquez, aliado político e cúmplice do casal noutros crimes.

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O ex-presidente da câmara de Iguala,Jose Luis Abarca, e a sua mulher, Maria de los Ángeles Pinedo JESUS GUERRERO/AFP

Nessa noite de 26 de Setembro, José Luis Abarca estaria ao lado da mulher na praça quando, de acordo com o processo, ratificou a ordem para a polícia municipal manter os estudantes longe do centro. Quando os autocarros em que viajavam foram avistados à entrada da cidade pelos chamados “falcões” dos Guerreros Unidos, foi dado sinal à polícia, que pediu instruções: a ordem foi para travar os veículos. A resistência dos estudantes, que ameaçaram prosseguir a pé para o centro, motivou nova troca de comunicações: da praça, a resposta veio com o código A-5, que correspondia ao presidente da câmara, e foi de dar-lhes uma “lição” inesquecível. Imediatamente, a polícia abriu fogo. O confronto acabaria com seis mortos, 25 feridos e – até hoje – 43 desaparecidos

A nova análise difere das conclusões de um grupo de peritos forenses argentinos que, em Fevereiro, concluíram que não havia provas suficientes. Antes deste, um ano depois do desaparecimento, em Setembro de 2015, um grupo internacional independente concluiu que não havia provas de um grande incêndio intencional  da Comissão Inter-Americana de Direitos Humanospara fazer desaparecer os corpos.

Esta terceira perícia foi pedida pelo governo em Fevereiro, logo após as conclusões dos peritos argentinos, depois de as famílias e várias organizações internacionais de defesa dos direitos humanos a terem exigido.

"Existem provas suficientes e até mesmo físicas que houve um incêndio controlado e de grande dimensão", insistiu Torres, acrescentando que só uma investigação de "grande escala" poderá confirmar se foram incinerados 43 corpos e que a sua equipa vai continuar a trabalhar nesse sentido.

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