Kabila declarado vencedor na RD do Congo, mas opositor não aceita

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Polícia foi mobilizada para travar protestos em Kinshasa Emmanuel Braun/Reuters

Joseph Kabila foi reeleito Presidente da República Democrática do Congo, segundo os resultados provisórios anunciados nesta sexta-feira pela comissão eleitoral. Mas esses resultados estão a ser contestados e o candidato opositor, Etiene Tshisekedi, declarou-se presidente eleito.

As eleições foram realizadas a 28 de Novembro e a comissão eleitoral da República Democrática do Congo já tinha anunciado que iria divulgar nesta sexta-feira os resultados provisórios. Ao fazê-lo, atribuiu ao Presidente cessante a reeleição, com 48,95% dos votos, tendo Etienne Tshisekedi, de 78 anos, obtido 32,33%.

A reeleição de Joseph Kabila, juntamente com as acusações de fraude eleitoral, está a aumentar a tensão no país e o receio de novos episódios de violência. A comissão eleitoral apelou à calma, mas na capital, Kinshasa, viram-se colunas de fumo negro e a polícia foi mobilizada para travar os protestos, descreveu a Reuters.

A comissão eleitoral anunciou que, dos cerca de 32 milhões de eleitores inscritos, quase 19 milhões votaram. O escrutínio teve uma taxa de participação a rondar os 58%, mais de 18,1 milhões dos votos foram considerados válidos e os resultados terão agora de ser validados pelo Supremo Tribunal de Justiça, que no próximo dia 17 deverá confirmar o vencedor.

Já se previa uma forte contestação aos resultados, e pouco após o seu anúncio Tshisekedi considerou-os “uma verdadeira provocação ao povo”. O rival de Kabila rejeitou o anúncio e, em declarações à AFP, adiantou: “Considero-me a partir de hoje o presidente eleito da República Democrática do Congo”.

Tshisekedi adiantou ainda que não irá apresentar recurso ao Supremo Tribunal. “Não há justiça na casa de Kabila. Estou a falar do Supremo Tribunal. Esse tribunal é uma instituição privada de Kabila e não posso dar-lhe a honra de recorrer àqueles juízes. Isso seria dar-lhe uma certa legitimidade, o que nunca farei”, disse à AFP.

Pouco após o anúncio da comissão eleitoral ouviram-se tiros em alguns bairros de Kinshasa. Em Bandale, no centro da cidade, manifestantes incendiaram pneus e atiraram pedras em direcção à polícia. Várias testemunhas adiantaram à agência francesa que também houve incidentes nos bairros de Limete e Kintembo.

Em algumas partes da cidade, no entanto, houve festejos de apoiantes de Kabila, de 40 anos, que está no poder desde 2001. Sucedeu ao seu pai, Laurent Desiré Kabila, que depôs Mobutu Sese Seko,mas só ganhou as primeiras eleições em 2006.

A campanha eleitoral foi marcada por confrontos. Segundo a Human Rights Watch, entre 26 e 28 de Novembro morreram pelo menos 18 civis. Analistas do International Crisis Group citados pela AFP alertaram para a possibilidade de o país “entrar de novo num importante ciclo de violência”.

Tshisekedi pediu aos seus apoiantes para manterem esse apoio “durante os acontecimentos que se vão seguir”, e deixou também uma mensagem à comunidade internacional. “O sangue dos congoleses não pode voltar a correr no chão deste país”.

O presidente da comissão eleitoral, Daniel Ngoy Mulunda, sublinhou que estas foram as segundas eleições “num país que conheceu o caos”, duas guerras entre 1996 e 2003. O anúncio dos resultados chegou a ser adiado por duas vezes, segundo Mulunda para que fosse verificada a concordância entre os resultados recebidos por via electrónica e os enviados por cerca de 170 centros locais de compilação de resultados.

Mas o facto de algum material do escrutínio ter demorado quatro dias a chegar aos centros de contagem suscitou suspeitas de que tenha sido retido, ainda que a União Africana e outras missões que acompanharam o escrutínio tenham considerado que as eleições foram “um sucesso” e apelado à contenção.

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