Incêndios florestais
Pedrógão Grande: o rescaldo numa terra quase cancelada
Quase uma semana depois do destruidor incêndio de Pedrógão Grande, já se poderia respirar melhor, se não fosse o peso esmagador da perda de vidas humanas que quase cancelou a terra – como, aliás, fez à festa de São João que deveria acontecer em Figueiró dos Vinhos.
Mas não. Não há São João, foi cancelado, como nos mostra o repórter fotográfico Adriano Miranda, com uma fotografia de um placard que anunciava a festa que já não se vai fazer. E nem se respira muito melhor: é verdade que não há chamas e o fumo já não escurece o dia, mas a perda é esmagadora e pesa sobre quem ainda respira.
Agora há rescaldo. Com população e bombeiros no terreno, bem como outras autoridades. É fazer contas à vida. E fazer de conta que (ainda) há vida.
A esta fotogaleria de Adriano Miranda, juntamos também um pequeno depoimento do fotojornalista, que regressou aos locais onde no sábado e domingo registou os momentos mais dramáticos do incêndio.
No mesmo café. O dos Bombeiros de Figueiró dos Vinhos. Na mesma mesa. Agora com a janela aberta e o céu azul. Descarrego o cartão CompactFlash com as imagens da manhã. Já não há fumo nem fagulhas. O azul e o sol deixam ver melhor. Tudo é negro e seco. Tudo é silêncio. Tudo é sofrimento. Percorro as estradas e aldeias de sábado à noite. Alguns rostos são conhecidos. Outros comovem-me pela primeira vez. Agora são as histórias. A indignação. A resignação. A tristeza. A revolta. A saudade. E é isso que se sente. Todo o território é saudade. Em cada ombro. Em cada esquina. Em cada árvore. Em cada vaso. Em cada um de nós. Saudade.