Problemas com a manutenção perturbam operação do metro do Porto

Há veículos parados em Guifões à espera de uma grande revisão, e serviços com grande procura a ser feitos com uma só composição.

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Os eurotram circulam na rede de metro desde 2002 e precisam de ser sujeitos a uma grande revisão nesta altura Fernando Veludo/NFactos

É um problema que se vem notando mais nos últimos meses. Em horas de ponta, alguns dos serviços do metro do Porto habitualmente realizados por veículos duplos, para fazer face à procura, estão a ser efectuados por veículos simples, que rapidamente ficam lotados. Há vários metros parados nas oficinas de Guifões, à espera de uma revisão que já devia ter acontecido há meses, o que somados a avarias noutras composições, afectam a operação. Embora a empresa garanta que isso não está a ter efeitos na procura.

Ele é uma porta que não fecha, o sistema de segurança do veículo que falha ou outro motivo qualquer. Todos os dias vários veículos sofrem uma avaria e saem de circulação. A situação, pelo que o PÚBLICO apurou, é normal, mas o seu efeito tornou-se mais evidente com a saída da Bombardier das oficinas da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário em Guifões, Matosinhos. A multinacional, que fabrica os veículos Eurotram e tram-train que circulam no Porto, participava na manutenção dos mesmos, até ao final de 2014, mas com o fim do contrato, este não foi renovado.

A EMEF ficou desde então sozinha com a responsabilidade de garantir a atempada reparação desta frota, mas muito dependente da Bombardier para a aquisição de peças, por exemplo. Acresce a isto a falta de mão-de-obra para as solicitações que vêm aumentando, em razão, também, da idade dos veículos. Os Eurotram, que chegaram ao Porto no arranque do serviço do metro, no final de 2002, já atingiram ou estão a atingir 960 mil quilómetros, momento em que deveriam ser sujeitos a uma segunda grande revisão (a primeira aconteceu aos 500 mil).

Nas oficinas de Guifões há já sete composições paradas por terem atingido o limite de 960 mil quilómetros percorridos. Não estão avariadas nem tecnicamente incapazes de circular. Apenas cumprem com os regulamentos do Instituto da Mobilidade e dos Transportes, que obrigam a que este tipo de veículos seja alvo de uma revisão profunda para continuarem a circular em segurança.

A EMEF, que ganhou um concurso à Bombardier, para fazer a manutenção da frota do Metro do Porto, esteve alguns meses a aguardar o visto do Tribunal de Contas para este contrato e aguarda agora que o próprio contrato seja assinado. Mas a situação começa a ser dramática porque à medida que mais comboios atingem os 960 mil quilómetros, estes serão estacionados nas oficinas à espera da revisão, diminuindo a capacidade de resposta da Metro do Porto para fazer o serviço.

A frota de Eurotrams da empresa é de 72 composições e para fazer a operação regular ela precisa apenas de 60 veículos (um número que sobe para 64 a 66 durante o Verão), mas como há sete imobilizados por terem atingido o limite de quilometragem, sobram apenas 65. E esta folga de cinco é, por vezes, insuficiente, porque há pequenas avarias e as manutenções regulares que obrigam a imobilizar o material em oficina.

A expectativa é que o contrato – no valor de dez milhões de euros – comece a vigorar em Fevereiro. Nessa altura a EMEF tem programado fazer a revisão da meia vida aos comboios à média de dois em cada cinco semanas. Um projecto que vai abranger numa primeira fase 35 veículos porque cerca de metade da frota entrou mais tarde ao serviço e pode ainda circular durante mais dois anos.

A revisão da meia vida consiste em “descascar” integralmente os veículos e desmontar todos os seus órgãos, desde os bogies (rodados) aos pantógrafos, conversores de tracção, ar condicionado, engates, assentos, cabine de condução. Os comboios ficam assim “despidos” durante uma semanas até serem novamente “reconstruídos” com componentes restaurados ou novos. E prontos para fazerem mais 960 mil quilómetros.

Em Fevereiro também se ficará a saber o que pretende o Governo fazer com o contrato de subconcessão – pode manter o que foi adjudicado pelo anterior executivo, lançar um novo ou, se seguir a vontade do PCP e do BE, não subconcessionar. A questão é que no caderno de encargos do ajuste directo levado a cabo pelo Governo de Passos Coelho, a manutenção dos veículos passa a ser uma responsabilidade do operador – que a pode contratar, ou não, à EMEF – ao contrário do que acontece nos contratos trimestrais que têm sido assinados.

A Metro do Porto assume a existência do problema, mas minimiza o seu impacto. “A Metro do Porto reconhece que temporariamente tem existido alguma perturbação na operação do sistema, devido à sucessiva prorrogação do actual contrato, que conduziu à alteração do subconcessionário para a manutenção dos veículos e no momento em que se aproxima o ciclo de grande revisão de parte substancial da sua frota”, explicou fonte da empresa. No entanto, insiste, “a taxa actual de cumprimento dos serviços é superior a 99 por cento e mantém-se o elevado nível de satisfação dos clientes”.

Para quem utiliza o metro o desconforto é no entanto é maior, numa rede em que algumas viagens, entre os pontos mais distantes, duram mais de meia hora, e os lugares sentados são ocupados nas primeiras paragens. As linhas de Gondomar, da Maia e de Matosinhos são as mais afectadas, pelo que o PÚBLICO conseguiu apurar, e a insatisfação tem caído, com maior frequência, na caixa de reclamações da empresa. Que até tem ganho noutra estatística, a da taxa de ocupação por veículo/km, que por força deste problema, até tem sido maior.

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