Jardim da Estrela recebe festival dos oito aos oitenta

Iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa pretende incentivar ao envelhecimento activo e pensar em soluções para reorganizar hábitos.

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Real Combo Lisbonense actua no dia 1 de Outubro Enric Vives-Rubio/ARQUIVO

O Jardim da Estrela, em Lisboa, vai ser palco de um festival “para todas as idades”, mas a pensar sobretudo nos mais velhos. O LisBoa Idade chega a 30 de Setembro e prolonga-se até 3 de Outubro, na mesma semana do Dia Internacional do Idoso, celebrado a 1 de Outubro. O programa propõe actividades que estimulem o envelhecimento saudável e as propostas envolvem tambémas crianças. Entre aulas de culinária saudável, espectáculos, palestras, workshops de segurança em casa, voluntariado sénior e actividades desportivas, o jardim quer inspirar os lisboetas (e o país) a preparar uma vida mais longa, mas também mais saudável e feliz.

A discussão do envelhecimento da população assume particular importância em Lisboa uma vez que, de acordo com os números citados pela autarquia, cerca de 130 mil pessoas têm mais de 65 anos de idade, o que representa cerca de 24% do total dos habitantes. “Se baixarmos o limiar do envelhecimento para os 55 anos, já superámos os 35%”, detalha o vereador dos Direitos Sociais, João Afonso, que apresentou a iniciativa esta terça-feira.

Além disso, continua, estima-se que até 2050 a população com mais de 65 anos represente um terço da sociedade. Só em Lisboa, mais de metade da população estará acima desta fasquia.

Face a esta “mudança radical na estrutura demográfica da cidade”, a autarquia assinala este “desafio de enorme importância”, onde saúde, habitação, emprego, transportes, nutrição e apoios sociais são os pilares do bem-estar que deve atravessar e abordar todas as idades.

“O principal obstáculo é mudar as mentalidades. É perceber que a nossa vida não são degraus nem gavetas. É um contínuo que temos de saber preparar”, avalia o vereador, que diz não fazer sentido "uma divisão por grupos etários e segmentação permanente". Em alternativa, a estratégia passa por “pensar de forma transversal ou holística”, avança. João Afonso exemplifica que isso acontece até durante a construção de estruturas que integram a cidade, como é o caso dos passeios. O mesmo acontece através da introdução e correcção de hábitos. “Se ensinarmos bem uma criança, possivelmente esta vai comer bem ao longo de toda a vida”.

O evento pretende reforçar a importância do envelhecimento saudável, em estratégias tão distintas que incluem não só aos cuidados de saúde e mobilidade, mas também garantindo que “as pessoas em solidão possam participar na sociedade novamente”.

João Afonso sublinhou ainda a importância da medicina geriátrica, uma área dedicada à prevenção e tratamento de doenças e incapacidade em idades avançadas, que se celebra no Congresso Europeu de Medicina Geriátrica, a decorrer também em Lisboa entre o dia 5 e 8 de Outubro. “Achamos normal a ideia de uma pediatria, não sei porque não achamos normal a ideia de uma geriatria, que faz todo o sentido se pensarmos numa sociedade em envelhecimento, como é o caso da europeia”, defende. Mas não se vê ainda esta ideia instituída nem disseminada formalmente pelos centros de saúde, considera o vereador, pelo que a expectativa é que o Congresso contribuía para alguma sensibilização.

O festival começa no dia 30 de Setembro com actuações de artistas como António Chainho e convidadas - Marta Dias e Ana Bacalhau -, Simone de Oliveira e Marisa Liz e Carlos Mendes. No segundo dia é a banda Real Combo Lisbonense quem sobe ao palco, pelas 20h45. No domingo, o destaque vai para o fadista Ricardo Ribeiro, que actua às 19h. No dia 3 as actividades são orientadas para os profissionais, onde serão debatidas soluções para o futuro.

Entre os parceiros envolvidos está Filomena Mendes, presidente do Congresso Português de Demografia. A demógrafa e professora universitária, também presente na apresentação do evento, quis alertar para a necessidade de uma reorganização da sociedade. “Para além das crises que o país tem atravessado, também a crise demográfica deve pôr-nos a pensar”.

Esta reorganização parte de questões tão simples como a de que “pessoas com 70 anos não podem comer o que comiam com 40 e tal anos”, exemplifica o chef de cozinha Hélio Loureiro, um dos embaixadores do festival.

A iniciativa é organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, em colaboração com 24 juntas de freguesia e em parceria com a empresa municipal responsável pela Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) e a Universidade de Lisboa.

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