Gaia lança concurso para consolidação da escarpa da Serra do Pilar

Obra, no valor de 4,3 milhões de euros, tem prazo de 240 dias. Noutra zona da encosta, Mário Ferreira quer abrir hotel junto à Capela do Sr. do Além.

Mário Ferreira poderá apoiar a reabilitação da Capela do sr. do Além
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Mário Ferreira poderá apoiar a reabilitação da Capela do sr. do Além, admite a Câmara de Gaia. Paulo Pimenta
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Em 2008, e face a um novo relatório do LNEC, as pessoas começaram a ser retiradas da escarpa. Paulo Pimenta

A Câmara de Gaia vai lançar o concurso público para a consolidação da escarpa da serra do Pilar, numa zona entre as Pontes Luís I e do Infante. A obra, de 3,5 milhões de euros, acrescidos de IVA, tem um prazo previsto de 240 dias e um apoio garantido de três milhões de euros do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, o PO SEUR. E deve resolver um problema identificado há décadas.

Esta intervenção decorre em terrenos pertencentes ao Estado, onde até há poucos anos moravam várias famílias. A instabilidade da arriba é conhecida há muito, e ela foi alvo de um estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, já em 1967, ao que se seguiram dois outros em 1984 e 1987. Em Março de 2007, e perante um novo relatório, do ano anterior, que assinalava “a necessidade de se tomarem medidas preventivas imediatas", o Governo Civil do Porto declarou o estado de alerta para a escarpa, onde, já nos últimos anos, foram demolidas 56 construções ocupadas como habitação e assegurado o realojamento de 44 famílias.

O concurso agora lançado vai permitir realizar a obra de consolidação de maior monta, essencial para garantir a minimização de riscos numa zona que faz parte do projecto de valorização das encostas do Douro. Esta é uma das prioridades do executivo liderado por Eduardo Vítor Rodrigues, que ontem assumiu que está para breve a aprovação de um projecto hoteleiro do empresário Mário Ferreira, noutra área da serra do Pilar, junto à famosa, mas degradada, capela do Sr. do Além.

O dono da Douro Azul quer construir um hotel de charme num edifício em ruínas, na rua Cabo Simão, com um ancoradouro particular no rio, e em troca deste licenciamento estará disponível para apoiar a reabilitação da centenária capela, na mesma rua, admitiu a Câmara de Gaia ao PÚBLICO.  Foi o próprio Mário ferreira, na sua página do Facebook, que esta semana admitiu a vontade de ajudar a reabilitar a capela do Século XIX, construída no mesmo local onde havia uma ermida pelo menos desde o século XII, com vistas deslumbrantes sobre o rio.

O empresário não revela mais pormenores sobre a sua intervenção no processo, mas o município explicou que “o projecto de construção de um hotel de charme da Douro Azul (junto à escarpa da Serra do Pilar) permitiu incluir a capela nos espaços de interesse público a serem intervencionados pelo promotor, como contrapartida pública do investimento e condicionante do licenciamento”.

“Desde o início deste mandato temos articulado com a Paróquia de Santa Marinha e com a Diocese uma solução para esta capela, propriedade da Paróquia e abandonada há muitos anos. A inexistência de quadro comunitário durante estes dois anos tem obstado à materialização de uma solução imediata”, acrescenta a autarquia, assinalando que a disponibilidade de Mário Ferreira “foi imediata e será materializada assim que o licenciamento do hotel estiver encerrado – o que estará para breve”, frisa.

Segundo a câmara, existe, “desde há vários meses, concordância da Paróquia e da Diocese, o que levará ao culminar de um longo e lamentável processo de degradação de um equipamento paroquial simbólico”. O pároco de Santa Marinha não quis no entanto comentar esta possibilidade, enquanto não tiver como garantido a existência de financiamento para a obra. O Padre António Barbosa assume que a capela está degradada e precisará de obras num montante de 300 mil euros, para reabilitar coberturas e algo do seu interior, de modo a poder ser aberta ao público. Quando chegou à paróquia, em 2007, o sacerdote apenas teve tempo de salvar algumas peças do interior da igreja, onde até a talha dourada tinha sido roubada, explicou.

Concursos com sortes diferentes
O lançamento do concurso para a consolidação da escarpa do Douro vai ser ratificado na reunião de Câmara de Gaia agendada para a próxima segunda-feira. Na mesma sessão, a vereação vai analisar o andamento de outros concursos, entre os quais o da reabilitação do mercado da Beira-Rio, cujo prazo de entrega de propostas foi alargado, a pedido de um dos interessados, a Mota-Engil. Em cima da mesa está também a proposta de permitir uma audiência ao vencedor do concurso para a exploração do Complexo Turístico do Parque da Aguda, que está em risco de ser excluído por ter entregue documentação, e a caução prevista, depois do prazo. Nesta reunião será também votada a delimitação de sete áreas de reabilitação urbana no concelho de Gaia, que incluem a cidade, as encostas do Douro, a zona central dos Carvalhos, as localidades de Aguda e Granja, no litoral, e três importantes zonas industriais.  

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