Eternizar a vida no Bosque de Alvito e dar frutos a quem precisa

Serão plantadas cinco mil árvores de fruto, no futuro Bosque do Alvito, no concelho de Viana do Castelo, para recuperar um antigo terreno mineiro. Toda a colheita será doada a instituições. Mas também será possível eternizar um momento da vida numa placa junto à árvore.

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Terreno preparado para a plantação DR

Doar uma árvore de fruto para reflorestar o Bosque do Alvito, que vai nascer num antigo terreno degradado pela exploração de minerais, em Alvarães, Viana do Castelo, pode, afinal, ser muito mais do que isso. É que o dador tanto contribui para melhorar o ambiente como ajuda a alimentar beneficiários de instituições de solidariedade social com os frutos colhidos, os primeiros já dentro de um ano. Também terá o nome e um momento especial da sua vida eternizados numa placa informativa junto à sua árvore, “numa iniciativa pioneira no país”, assegura o presidente da junta de freguesia de Alvarães, Fernando Martins.

O autarca é o primeiro a dar o exemplo para, no final, ter cinco mil árvores no terreno. Fernando Martins quer plantar, em breve, uma laranjeira ou castanheiro — ainda não se decidiu qual das duas — no futuro Bosque de Alvito. Mas, mais importante do que isso, é a homenagem que vai prestar ao pai, que faleceu há alguns anos, ali colocando uma placa em sua memória. Na prática, explica, “cada pessoa, personalidade pública, instituição ou empresa pode plantar uma árvore, neste bosque, para assinalar algum momento da sua vida ou mesmo homenagear outras pessoas”. 

É precisamente o que Vanessa Amorim Rosa, que mora em Lisboa e que soube da iniciativa através do Facebook, quer fazer. “Achei muito interessante reflorestar a área, sobretudo quando penso em toda a área ardida no país por causa dos incêndios”, conta. “Mas gostei especialmente da dimensão social e da celebração de experiências das pessoas”. Por tudo isto, na hora de decidir, Vanessa nem pestanejou e pediu à junta de freguesia sete árvores de fruto o mesmo número de familiares mais chegados — ela, os quatro filhos e os pais — que pretende homenagear. Sabe de antemão que apenas tem de pagar as árvores, com um custo entre os 15 a 75 euros cada uma, que o resto fica a cargo da junta de freguesia que as adquire, planta e assume a sua manutenção. “Serão plantadas uma oliveira, figueira, romãzeira, diospireiro, amoreira, laranjeira e limoeiro para celebrar a relação familiar e as vivências de cada um de nós”. Espera, um dia, poderem visitar as árvores “como uma espécie de memorial da família”.     

Mas este gesto também é solidário, acrescenta o autarca, pois “os frutos serão doados a instituições de apoio social ou ao Banco Alimentar para confecção de sumos, compotas e inclusão nas ementas diárias”. A iniciativa serve ainda para recuperar o terreno, com mais de 20 hectares, degradado há muitos anos pela exploração mineira, e transformá-lo numa zona verde e de lazer. Ali também vai nascer uma horta e pomar comunitários para ajudar os moradores de dois bairros sociais, situados na vizinhança, à semelhança do que já existe um pouco por todo o país. Serão ainda construídos percursos pedestres para passeio ou prática de desporto e uma praça central para realização de espectáculos. “Queremos criar algum dinamismo no espaço”, afirma o autarca.

Fernando Martins acredita que muitas mais pessoas seguirão o exemplo de eternizar individualidades e memórias. Também acredita que, já no próximo ano, algumas delas comecem a dar fruto e seja possível distribuir os alimentos por quem realmente precisa.

Já Catarina Pereira, de Viana do Castelo, gostaria de plantar uma laranjeira “pelo simbolismo da sua flor e por ser uma árvore fértil que dá frutos durante praticamente todo o ano”. Quer baptizá-la de “resiliência, em homenagem à avó que sempre foi uma mulher lutadora e muito resiliente. Além de docinha para os netos, tal como serão as laranjas que ali vão nascer”.

Por esta altura, o terreno está a ser objecto de colocação de terra preta para que depois seja possível plantar as árvores com entre 1,20 e 1,60 metros de altura. “O terreno está desactivado há já alguns; durante muito tempo, as pessoas extraíam dali barro”, conclui o autarca.

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