Uma junta em Lisboa é o primeiro objectivo político de Raquel Abecasis

Foi jornalista durante 30 anos na Rádio Renascença e aceitou ser candidata independente do CDS – partido a que pertenceu o seu pai – à Junta das Avenidas Novas. A começar uma nova carreira, Raquel Abecasis não exclui filiar-se no partido nem ir mais longe na política

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Raquel Abecasis compara-se a uma "estagiária" na política Rui Gaudêncio

Com 50 anos, casada e mãe de dois filhos, a filha de Nuno Krus Abecasis, presidente da câmara de Lisboa nos anos 80, identifica o estacionamento como um dos problemas nas Avenidas Novas.

Por que é que tomou esta decisão de aceitar ser candidata à freguesia das Avenidas Novas?
Porque a política sempre foi uma coisa que teve muito apelo em mim por motivos vários, não só familiares. Convivi com a política desde que nasci e numa altura muito especial, após o 25 de Abril, em que era muito viva. Mas depois, na minha vida jornalística, convivo com a política há muitos anos, com os políticos e com as decisões. E nunca foi uma coisa que afastasse do meu futuro profissional. Acontece que tinha uma profissão incompatível e no dia em que tomasse esta decisão tinha de deixar para trás a profissão que eu tinha e isso são sempre equilíbrios difíceis. Porquê nesta altura? Ao fim de 30 anos de jornalismo, que foi a minha primeira paixão, achei que já tinha feito de tudo o que havia para fazer no jornalismo - tive essa sorte, graças a Deus - e portanto senti-me muito realizada. E depois criaram-se as condições para dar este passo para a minha segunda paixão que é a política. É possível fazer coisas pelas pessoas, mudar a vida das pessoas. Não mudamos tudo, não mudamos de repente – e a minha experiência jornalística deu para perceber isso - , mas o desafio de poder fazer mais alguma coisa atraiu-me muito e foi o click para dar este passo.

Foi o desafio de fazer mais alguma coisa? 
Foi o de mudar de carreira. Posso ter um protagonismo do outro lado. Os jornalistas observam, opinam, eu fiz tudo isso. Mas acho que a nossa responsabilidade enquanto cidadãos é fazermos mais do que isso. Achei que valia a pena arriscar. Por outro lado, acho importante dizer isto, decidi dar este passo porque gosto muito de política, não é romântica e não é um dever. Agora, para quem gosta é uma obrigação.

É uma passagem mesmo para a política e para outro patamar?
Não sei, agora dei o primeiro passo e vamos ver até onde é que a vida me leva. Não vale a pena fazer grandes projectos. Gostava muito de ganhar a Junta de Freguesia das Avenidas Novas. É um bom início para começar uma actividade política porque é a possibilidade de trabalhar junto das pessoas, conhecer as pessoas. Não excluo nenhuma hipótese de futuro. Vai depender daquilo que vai acontecer ao longo da minha vida.

Deixou a sua vida profissional para ser candidata a uma junta que foi ganha em coligação com o PSD em 2013. É um risco?
É. Mas quem foi jornalista durante 30 anos está habituada a risco. Portanto, acho que foram criadas condições para que o risco seja calculado. Mas a vida sem riscos e sem desafios não tem graça. 

Aceitou ser candidata nesta junta por ter vivido na zona desde criança?
Em abono da verdade, cresci em Alvalade mas andei no [liceu] Filipa de Lencastre e toda a minha juventude se passou nas Avenidas Novas, todos os meus amigos viviam ali. É uma freguesia que conheço muito bem onde tenho algumas pessoas de família a viver ainda hoje e onde conheço muita gente, tenho muitos amigos, onde vou muitas vezes. 

O que é que falta fazer na freguesia?
Ainda não comecei a fazer um trabalho de campo porque só agora é que tomei a decisão. Daquilo que conheço há um grande problema com o estacionamento. É muito complicado circular ali, estacionar os carros. O arranjo que foi feito na Avenida da República, que tem o lado bom e não estou a dizer que foi totalmente positivo, mas seguramente criou um problema de estacionamento para as pessoas que são moradoras ali que, no mínimo, passaram a pagar o dobro do que já pagavam para estacionar os carros perto de casa. 

Como é que vê o estacionamento na cidade?
Acho que é um dos grandes dramas em Lisboa hoje em dia é o estacionamento e o trânsito. E uma rede de transportes que não responde a uma cidade que está completamente virada para o turismo. Não sou contra os turistas na cidade, gosto de andar na cidade e de ver os tuk tuk e tudo isso. Acho que Lisboa devia evoluir para o que as outras grandes capitais europeias têm que é uma rede de transportes. A Assunção Cristas foi muito criticada por aquela proposta das 20 estações de metro em Lisboa, é uma proposta que ainda não estudei mas tenho a certeza absoluta que a questão de desenvolver a rede de metro é fundamental. 

Admite vir a filiar-se no CDS?
Admito. Não acho que seja uma decisão urgente para já, mas admito. Isso e o contrário.

De que forma é que vê a sua futura participação no CDS?
Não sei. Já percebi que há aí muitos planos e muitas recordações e projectos. Não vale a pena fazer muitos planos. Estou a entrar na actividade política, sou estagiária neste instante.

O seu pai foi uma inspiração para esta decisão?
Claro que inspirou. Somos seis filhos e inspirou-nos a todos. Vou dizer uma coisa que nós podemos dizer de um pai que já morreu. A coisa que mais admiro no meu pai é terem-se passado estes anos todos e as pessoas ainda me virem falar nele. O meu pai morreu há 18 anos. Esse é o grande legado que o meu pai nos deixou. Ele tem alguma uma influência por este meu gosto pela política e a última coisa que eu quero é manchar aquilo que ele fez.

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