“Cinema com Terra” leva a agricultura e a ruralidade ao Porto
Ciclo de cimena traz para as telas do cinema Passos Manuel, no Porto, documentários sobre ecologia.
Há espaço no cinema para filmes que tratem sobre a agricultura, a ruralidade, a saúde e alimentação? Sim há, e estes estão à mostra a partir desta quinta-feira no cinema Passos Manuel, no Porto.
A 2ª mostra “Cinema com Terra” traz até à cidade Invicta em seis sessões, ao longo de três dias - desde quinta-feira, 31 de Março, até sábado, 2 de Abril – um conjunto de filmes que mostram uma renovação cinematográfica ao nível do documentário contemporâneo, que demonstra que os cineastas cada vez mais revelam interesse artístico e cívico pela ecologia.
Este ano, a cabeça de cartaz desta mostra é a jornalista de investigação e realizadora francesa Marie-Monique Robin, vencedora de diversos prémios e condecorada com a Legião de Honra pelo Governo francês, que estará presente neste ciclo durante os dois dias em que serão exibidos filmes da sua autoria.
Durante o dia de abertura do programa, que decorre esta quinta-feira, pelas 18h, os filmes em cartaz são todos produzidos em Portugal e por portugueses, com documentários de Carlos Eduardo Viana, Gonçalo Mota, Sara Baga e José Vieira, que tratam a realidade rural e agrícola no nosso país a partir de aldeias de diferentes pontos do país. Uma verdadeira lição de como manter terrenos agrícolas, fazer cultivos à moda antiga e até mesmo de como preservar sementes naturais.
Os dias de sexta-feira e de sábado são dedicados à exibição de filmes de Marie-Monique Robin, que, "embora com imagens por vezes cruas, apresenta a ecologia pelo seu lado positivo e não catastrofista, já que visa sempre lançar os debates públicos e promover as lutas cívicas", explica a organização, a cargo das associações Colher Para Semear e Campo Aberto.
Entre os filmes que serão exibidos está o conhecido documentário O Mundo Segundo a Monsanto, sobre a multinacional norte-americana que é hoje líder mundial do comércio de Organismos Geneticamente Modificados e que é considerada, pelo movimento ecologista mundial, como um dos grandes poluidores da era industrial. Graças a este documentário e ao livro homónimo, que está traduzido em 15 línguas, o debate sobre os transgénicos e a agroquímica mantém-se vivo: a Greenpeace enviou-o a todos os deputados franceses e, frequentemente, a autora apresenta-os em muitos dos países mais afectados pela introdução dos transgénicos. o programa completo pode ser consultado aqui.
O abandono dos territórios agrícolas e o desaparecimento das tradições rurais, assim como a preocupação crescente com a degradação do meio ambiente têm despertado o interesse de muitos realizadores e produtores que, através do documentário, têm chamado a atemção para a situação actual da agricultura e da ecologia.
Em Portugal, há 20 anos que se realizam filmes sobre estas temáticas. A ideia surgiu no seio da associação Colher Para Semear – Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais, que está directamente ligada às práticas agrícolas e à produção de alimentos, ideia a que aderiu a Campo Aberto – Associação de Defesa do Ambiente, com sede no Porto.