Exportações e investimento agravam divergência com a Europa

Desempenho das exportações e investimento continuou a piorar no primeiro trimestre de 2016, anulando o efeito positivo do consumo. Divergência de Portugal com a zona euro acentuou-se.

Foto
Abrandamento das exportações trava crescimento da economia nacional Manuel Roberto

A quebra da procura vinda de alguns dos principais clientes das exportações portuguesas e a manutenção de uma preocupante queda do investimento juntaram-se às paragens técnicas de produção na Galp e na Autoeuropa para fazer do primeiro trimestre deste ano um período em que se acentuou o abrandamento da economia portuguesa, que não conseguiu acompanhar o ritmo registado no resto da zona euro.

Os dados provisórios para a evolução do PIB registada no primeiro trimestre de 2016 foram divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e não se pode dizer que tenham constituído uma surpresa, tendo em conta a informação que já tinha sido divulgada esta semana para o comércio internacional e para o mercado de trabalho.

PÚBLICO -
Aumentar

O PIB registou no decorrer do primeiro trimestre do ano uma variação de 0,1% face ao período imediatamente anterior. É um valor que é ainda positivo, o que significa que a economia não está em recessão, e que não fica longe do que aconteceu no último trimestre de 2015, uma variação de 0,2%.

No entanto, quando se olha para o desempenho face ao ano passado, fica evidente que a economia não só continua a mostrar abrandamento, como acentuou essa tendência no arranque de 2016. A variação homóloga do PIB passou de um crescimento de 1,3% no quarto trimestre de 2015 para apenas 0,8% nos primeiros três meses deste ano. Este é o valor mais baixo desde o final de 2014.

Depois de ter registado uma variação homóloga de 1,7% no primeiro trimestre de 2015, o PIB tem vindo consecutivamente a abrandar, com crescimentos de 1,5% no segundo trimestre desse ano, 1,4% no terceiro e 1,3% no quarto.

Metas em risco

A que se deve este resultado? Na nota ontem publicada (que ainda não apresenta valores concretos para as diversas componentes do PIB), o INE dá algumas pistas. Diz que “a procura externa líquida registou um contributo mais negativo para a variação homóloga do PIB que no trimestre anterior, reflectindo a desaceleração das exportações de bens e serviços”.

Explica também que este desempenho negativo da procura externa líquida (exportações menos importações) surge em simultâneo com aquilo que o INE diz ser um “contributo positivo, próximo do verificado no trimestre anterior” da procura interna. Para além disso, dentro da procura interna, o INE destaca as diferenças que se encontram no desempenho do consumo privado e do investimento. Enquanto o consumo privado registou, no primeiro trimestre, um “crescimento mais intenso”, o investimento “desacelerou significativamente”.

Isto é, a aceleração do consumo privado, que já era esperada por conta das medidas de recuperação do rendimento disponível, não chegou para compensar os resultados menos positivos nas exportações e no investimento. E a economia abrandou.

O abrandamento das exportações e do investimento é, em larga medida, uma tendência que vem já do ano passado, explicou ao PÚBLICO, Paula Carvalho, economista-chefe do BPI. No caso das exportações, contudo, para além da travagem já registada em alguns mercados importantes para Portugal, como Angola, Brasil e China, houve factores pontuais decisivos que estão relacionados com as paragens técnicas de produção que se verificaram nas duas principais empresas exportadoras de mercadorias do país: a Galp e a Autoeuropa.

Ao nível do investimento, a explicação para o abrandamento é menos óbvia, sabendo-se que a tendência teve início a partir da segunda metade do ano passado e agora continuou.

Perante os números do PIB publicados ontem, a economista do BPI vê-se forçada a rever as suas projecções para a totalidade do ano. Antes previa um crescimento de 1,6% em 2016, agora aponta para 1,5% ou mesmo 1,4%. Uma melhoria em relação aos 0,8% deste primeiro trimestre é considerada provável, uma vez que a partir do segundo trimestre, a base de comparação face ao ano passado começa a ser mais favorável.

É também por isto que o ministro das Finanças, que no Orçamento do Estado assumiu um crescimento do PIB de 1,8% este ano, mantém um discurso optimista. Mário Centeno disse ontem acreditar que a economia irá a acelerar ao longo do ano, garantindo que os resultados agora conhecidos “"não fizeram a diferença em relação ao final do ano passado que todos esperávamos".

A grande esperança do ministro reside na evolução dos mercados externos, "em particular alguns mercados muito importantes para as exportações portuguesas", algo "que deverá melhorar e recuperar ao longo do ano".

O que é certo é que, para já, Portugal mostra não conseguir acompanhar o ritmo (também ele moderado) registado no resto da economia europeia. A zona euro cresceu 0,5% face ao trimestre imediatamente anterior, o que representa uma aceleração em relação aos 0,3% registados no quarto trimestre de 2015.

Por sua vez, a taxa de variação homóloga do PIB na zona euro desceu ligeiramente, passando de 1,6% no quarto trimestre de 2015 para 1,5% agora.

Nos dois indicadores é notório um agravamento da divergência da economia portuguesa face às economias do resto da zona euro. Durante o decorrer do ano de 2015 e o início de 2016, a zona euro manteve a sua taxa de crescimento estabilizada em torno dos 1,5%, ao passo que Portugal, que iniciou o ano passado a um ritmo semelhante, registou depois um abrandamento progressivo, que agora se acentuou.

Entre os países que já apresentaram dados referentes ao primeiro trimestre deste ano, Portugal foi o terceiro país da zona euro com um crescimento do PIB em cadeia mais baixo, apenas acima da Grécia e da Estónia, e o segundo país com um pior crescimento homólogo, superando apenas a Grécia.

Sugerir correcção
Ler 14 comentários