Real Madrid e Bayern a jogarem sobre tapetes pregados ao chão

Arrancam hoje os campeonatos em Espanha e na Alemanha, com os detentores do título a reforçarem o favoritismo face a anos recentes. Poderá o mercado reequilibrar a balança?

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As Supertaças nacionais, enquanto aperitivo competitivo para a temporada oficial, não oferecem mais do que um vislumbre do que poderá esperar-se de cada campeonato. Mas a julgar pelo desfecho das provas na Alemanha e em Espanha, a palavra “continuidade” ganha impacto acrescido. A Bundesliga e La Liga versão 2017-18 arrancam hoje, com os campeões em título a reunir as condições para cavarem um fosso (ainda) maior face à concorrência. A questão que se coloca não é quem conseguirá bater o pé a Bayern Munique e Real Madrid, é se alguém será capaz de o fazer.

Comecemos por Espanha. Com a conquista da Supertaça europeia e da Supercopa, o actual detentor da Liga dos Campeões deu nova prova de autoridade, mostrando estar uns valentes furos acima do eterno rival doméstico, o Barcelona. “É a primeira vez em nove ou dez anos que me sinto inferior ao Real Madrid”, reconheceu o central Piqué, na sequência do desaire sofrido na quarta-feira no Santiago Bernabéu (2-0), depois de um desfecho semelhante em Camp Nou (1-3).

São dois gigantes europeus em trajectórias opostas. De um lado, o Real de Zidane, mais fiável do que nunca, com uma ideia de jogo consolidada e um plantel sem perdas significativas (destacam-se as saídas de James e Morata, que não eram primeiras escolhas); do outro, um Barcelona em crise de identidade, com uma nova equipa técnica, chefiada por Ernesto Valverde, um “onze” à procura de alternativa a Neymar e uma direcção fragmentada.

Com um Atlético Madrid estável, mas ainda assim distante do duo que se tem revezado no topo, e um Sevilha que já não conta com o toque de génio de Jorge Sampaoli, só um Barcelona reconstruído poderá morder os calcanhaers ao Real. E essa reconstrução depende em larga medida da valia dos reforços que ainda possa acrescentar ao plantel, já que dificilmente será Paulinho (contratado ao Guangzhou Evergrande por 40 milhões) a fazer a diferença. O que se espera na Catalunha é a chegada de mais-valias do teor de Philippe Coutinho e Ousmane Dembélé.

Claro que o mercado, até 31 de Agosto, continua aberto para todos em Espanha, o que significa que o Real Madrid também pode reforçar-se. Nesse sentido, a frente de ataque será uma prioridade, com o nome do fenómeno francês Kylian Mbappé (Mónaco) a surgir como forte possibilidade para se juntar a Benzema, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo. Um reforço capaz de desequilibrar ainda mais a balança.

Uma incógnita chamada Borussia

A discussão que alimenta o futebol espanhol não difere muito da que tem lugar na Alemanha, com o Bayern Munique em ponto de mira. É verdade que, apesar da qualidade do plantel, os bávaros não têm a dimensão europeia do Real Madrid e que a conquista da Supertaça, a 5 de Agosto, não foi tão contundente (ganhou ao Borussia Dortmund no desempate por grandes penalidades), mas o campeão germânico lidera destacado a bolsa de apostas.

É fácil perceber porquê. Apesar do fim de carreira de jogadores emblemáticos como Lahm e Xabi Alonso — e da saída de Douglas Costa —, o Bayern mantém um elenco de luxo, até porque voltou a destacar-se no mercado de transferências, ao investir mais de 100 milhões de euros, especialmente nos franceses Tolisso e Coman e no central Niklas Süle. A continuidade do projecto Ancelotti também garante estabilidade, mesmo que a espaços o futebol produzido não encante propriamente os exigentes adeptos bávaros.

Os 15 pontos de distância para o segundo classificado na época passada espelham bem a diferença de potencial. E o facto de o Red Bull Leipzig se ter assumido como a grande revelação, com o estatuto de vice-campeão, mostra como o Borussia Dortmund caiu de produção. Para o Leipzig, que não perdeu nenhuma jóia da coroa e se reforçou com Jean-Kevin Augustin (PSG) e Bruma (Galatasaray), será um desafio gigantesco replicar o brilharete de 2016-17, mas a grande incógnita rodeia a equipa agora comandada por Peter Bosz.

A saída de Thomas Tuchel, um dos grandes treinadores alemães da actualidade, abriu uma nova página na vida do Borussia Dortmund, que perdeu dois defesas, Bender e Ginter, e está a lutar para manter Dembélé e Aubameyang. Se o conseguir, terá os dois “reforços” de maior peso nesta época, mesmo depois das contratações de Philipp (Friburgo), Dahoud (Borussia Mönchengladbach) e Omer Toprak (Bayer Leverkusen).

O Mönchengladbach (37,3 milhões de euros) e o Schalke (47,5 milhões) também investiram forte, mas não deverá ser suficiente para se aproximarem do Bayern, sendo que o Hoffenheim perdeu bastante qualidade no mercado (saíram Süle, Schär e Rudy). Seja como for, terão na Bundesliga o mesmo desafio que todos os adversários do Real Madrid em Espanha — puxar o tapete ao campeão. Um tapete que, até prova em contrário, parece pregado ao chão.     

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