O segundo voo dos “corvos” de Minsk

O FC Krumkachy começou num fórum na Internet e conseguiu chegar à primeira divisão do futebol bielorrusso em cinco anos

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Jogadores do FC Krumkachy antes de um jogo do campeonato Anita Zankovich/FC Krumkachy
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O clube conseguiu chegar à primeira divisão do futebol bielorrusso em cinco anos Anita Zankovich/FC Krumkachy
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O triunfo por 4-1 sobre o Dínamo Minsk foi um dos destaques da temporada de estreia na I Divisão Anita Zankovich/FC Krumkachy
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Krumkachy significa “Corvos”, para combinar com o equipamento totalmente preto da equipa Anita Zankovich/FC Krumkachy
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O clube rapidamente conquistou uma legião de fãs de todas as idades Anita Zankovich/FC Krumkachy

Um campeonato está transformado numa monocultura quando uma equipa conquista 11 títulos consecutivos, como é o caso do BATE Borisov na Bielorrússia. A previsibilidade levou à queda progressiva da média de assistências nos jogos da liga local – em 2016 foi de apenas 1480 espectadores – mas algo de novo está a acontecer em Minsk. Uma equipa formada em 2011 conseguiu a proeza de chegar ao escalão principal em cinco anos e sobreviver. Com o mais baixo orçamento da competição, o FC Krumkachy surpreendeu tudo e todos e prepara-se para a segunda temporada entre a elite.

“Seria um sonho qualificarmo-nos para as competições europeias. Estar numa pré-eliminatória da Liga Europa já seria quase 50% do orçamento do clube”, admitiu ao PÚBLICO o director de comunicação do FC Krumkachy, Roman Shevtsov. No ano passado os “corvos” ameaçaram consegui-lo – eram quintos, a três pontos do segundo, com sete vitórias e três empates em 15 jogos na primeira volta e resultados inesquecíveis como o 4-1 ao Dínamo Minsk, a segunda equipa com mais títulos na Bielorrússia e que chegou a ser campeão soviético, em 1982. Mas a segunda metade da época foi um pesadelo, com dez derrotas, três empates e somente dois triunfos. Deu para terminar em 11.º e sobreviver entre a elite, um feito notável com o orçamento mais diminuto da competição, a rondar o meio milhão de euros. Este ano, Shevtsov aponta a um lugar no top-4: “Vai ser muito difícil, mas temos esperança”.

Tudo começara em 2011, no fórum online de um jornal desportivo bielorrusso. O desencanto pelo estado do futebol no país levou a discussão até à ideia de criar uma equipa para participar nas competições amadoras. Os três dinamizadores, que não se conheciam, combinaram encontrar-se uma tarde para tomar uma cerveja e o projecto começou a ganhar forma. O nome foi escolhido – Krumkachy significa “Corvos”, para combinar com o equipamento totalmente preto da equipa – e reuniu-se um grupo de jogadores para disputar a III Divisão que, inicialmente, não eram mais do que 11 pessoas sem experiência relevante. Tudo começou como um passatempo, mas aquele conjunto de amigos rapidamente se viu na posição de defrontar alguns dos principais emblemas do futebol bielorrusso.

Em 2014, com três anos de existência, o FC Krumkachy conseguiu subir à II Divisão. Mas no ano seguinte começaram as dores de crescimento: duas derrotas em duas jornadas deixaram à vista a falta de estrutura do clube em comparação com os adversários. Só que tudo mudaria com a chegada de Oleg Dulub, com uma longa carreira de futebolista e experiência como adjunto em vários clubes. Há um ano sem emprego, Dulub revolucionou o FC Krumkachy – e, no final dessa temporada, os “corvos” estavam novamente em posição de subida, a caminho do principal escalão.

A rápida ascensão do FC Krumkachy mostra que não há limites no futebol, mas também deixa à vista quão reduzida é a competitividade do futebol bielorrusso. Os críticos apontam o mau precedente que o clube estabeleceu, ao mostrar que é possível chegar ao primeiro escalão sem investimento. Mas isso também é parte da magia deste emblema, que rapidamente conquistou uma legião de fãs de todas as idades. E que vai mudando vidas, como a de Evgeni Kostyukevich: chegou ao FC Krumkachy com 25 anos, quando o clube estava na II Divisão, para ser treinador de guarda-redes (chegara a fazer testes no CSKA Moscovo, mas problemas de saúde obrigaram-no a abandonar o futebol) e operador de vídeo. Mas chegou a fazer alguns jogos pela equipa quando não havia mais ninguém para a baliza.

Num campeonato onde todos os clubes são financiados pelo Estado, o FC Krumkachy fez questão de não o ser. “Não aceitamos subvenções estatais e isso coloca-nos em desigualdade com os nossos adversários. Se 15 equipas recebem e uma não... é evidente que saímos a perder. Queremos ser um fenómeno na vida da Bielorrússia em geral, não apenas no futebol. Se tens um sonho, podes alcançá-lo. Nem as circunstâncias, nem as condições, nem o Governo podem travar-te. Tudo é possível”, frisou um dos fundadores, Denis Shunto, à cadeia beIN Sport. A Bielorrússia é governada desde 1994 por Alexander Lukashenko, a quem a ex-secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice chegou a designar como “o último ditador da Europa”. Dentro e fora de campo, os “corvos” não se assustam.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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