Nunca é tarte

O caso de Wayne Shaw, o guarda-redes do Sutton United que foi forçado a demitir-se por ter petiscado durante o jogo com o Arsenal, tem servido para fazer uma reavaliação urgente daquilo que ele estava, de facto, a comer.
Diogo Magalhães aqui no PÚBLICO teve a ousadia de dizer que ele comeu uma tarte. Mas não era uma tarte. Era um pie. Um pie aproxima-se mais de uma empada. É feito com shortcrust pastry. Em francês diz-se pâte brisée. Em português não faço ideia. Leva farinha e gordura. Não leva fermento.

A massa, tal como o recheio, tanto pode ser salgada (steak and kidney pie) como doce (apple pie). Os americanos, por pirraça, chamam erradamente pie a uma pizza. Mas um pie, como ficou correctamente definido pelos habitantes do Reino Unido, não pode levar fermento e, para mais, tem de ser coberto por massa. Tanto pode ter massa por baixo e por cima (como num pork pie) como só por cima (como num fish pie).

Uma tarte portuguesa diz-se em inglês tart. Quanto a uma torta nem para aqui é chamada. A um pie mais vale chamar-se, em português, pie. Uma empada inglesa de frango nunca é cilíndrica e, por isso, é preferível chamar-se um chicken pie. Até pastel é melhor do que tarte.

Acresce que o Wayne Shaw não estava a comer um pie mas sim um pasty que não se pronuncia peisti mas pásti. A pele do guarda-redes é pasty/peisti mas o salgadinho que devorou era um pasty/pásti. Um pasty, que idealmente é Cornish, contém carne, batata, nabo amarelo e...desisto, uma espécie de aigivupe.

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