Rock in Rio: o tempo foi passando até chegar Bruce Springsteen

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Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Os Kaiser Chiefs deram uso ao slide na abertura do palco principal e, com eles começou a contagem decrescente para Bruce Springsteen. Às 23h40, chegaria o momento mais esperado do Rock In Rio Lisboa de 2012. Até lá, houve rock. Mais de 70 mil tinham entrado no Parque da Bela Vista, em Lisboa.

E eis que Ricky Wilson, o vocalista dos Kaiser Chiefs, desaparece para reaparecer, confirmaram-no os ecrãs de palco, no topo do slide que atravessa a frente de palco do Rock In Rio. A banda continuou a tocar, Ricky continuou a cantar enquanto deslizava e o público, o muito público que vai enchendo o Parque da Bela Vista (39 mil entraram até às 18h), adorou aquele momento em que se quebrou a inultrapassável distância entre palco e plateia.

O Rock In Rio entra no seu último dia e a animação é evidente. Aguarda-se o Boss, vulgo Bruce Springsteen, o nome mais esperado de todo o festival, que chegará às 23h40. Aguardam-se, a julgar pelo número de t-shirts decorando os torsos de quem passeia pelo recinto, os Xutos & Pontapés, a banda que actuará antes do ícone americano.

Um dia depois de Stevie Wonder ter dado um concerto que celebrou toda a história da música afro-americana (de que Wonder foi protector, divulgador e revolucionário), o Rock In Rio vive o seu dia do rock, como comprovado pela bem-vinda electricidade oferecida pelos The Poppers no exíguo palco da Vodafone FM. Esse onde, depois deles, Samuel Úria daria um pequeno extraordinário concerto: um western luso com o volume no 11, country-rock adaptado à paisagem portuguesa (pode ser a de Tondela, terra de Úria), guitarras infernizadas e um órgão que reverberava como pede a boa soul. “Teimoso”, “Sião” e a nova “Forasteiro” foram algumas das canções que lhe ouvimos. As suficientes para exigir a Úria que se despache a pôr o segundo álbum cá fora. Promete.

Neste festival que, quanto a azáfama para promoções e afins, continua como sempre, houve a surpresa das acrobacias aéreas de um avião que, pouco antes de os Kaiser Chiefs inaugurarem o palco principal, às 19h, pôs muitos a puxar pelas máquinas fotográficas e a apontá-las ao céu.

Nessa altura, registava-se uma enorme enchente para o encontro no Palco Sunset de David Fonseca com a doce revelação brasileira Mallu Magalhães, que resultou muito gentil, muito pop. Chegariam depois dois históricos veteranos dos dois lados do Atlântico, Rui Veloso e Erasmo Carlos. Entre o público a acompanhá-los não estariam certamente os finlandeses que carregam consigo uma faixa em que, sobre a cruz azul da bandeira da Finlândia, fora inscrita uma mensagem para Bruce Springsteen. A noite será dele, inevitável e justamente.

Os Kaiser Chiefs, neste contexto, foram apenas pequeno aquecimento. Sabem perfeitamente como conquistar as massas de acontecimentos como o Rock In Rio e entraram a matar. Primeiro desconcertantes: no sistema de som do palco, ouviu-se a entrada de “Money For Nothing”, dos Dire Straits, ouviu-se o riff que todos conhecem. Silêncio. Surge a banda. “Never miss a beat” e, depois, “Everyday I love you less and less”. Os Kaiser Chiefs são como que súmula de três décadas de rock britânico, sem pretensões a nada mais que oferecer alguma diversão. Foi isso que fizeram. Aplaudiram-se os clássicos da banda, como “My God” (a última do concerto) ou “I predict a riot”, já se esqueceram as canções novas apresentadas e, acima de tudo, guardou-se na memória a viagem de slide de Ricky Wilson – foi esse o momento em que o público pareceu sinceramente entusiasmado. Um concerto de abertura é um concerto de abertura e foi exactamente isso o que fizeram os Kaiser Chiefs.

Enquanto os James, que entraram em palco há cerca de 15 minutos, visitam a sua carreira para saciar nostalgias e manter a festa em andamento, vai-se contando o tempo que falta. Bruce Springsteen, pois claro. Esperam-se cerca de duas horas de concerto. É certo que não entraremos serenamente na madrugada deste domingo, o último do Rock In Rio Lisboa de 2012.

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