Robert Capa, agora a cores

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Robert Capa começou a fotografar regularmente a cores em 1941 (esta imagem é de 1943), mas muito desse seu trabalho permanece inédito: Capa in Color vai mostrá-lo a partir de 31 de Janeiro

Robert Capa (Budapeste, 1913-Thai Binh, 1954) fotografou a Guerra Civil de Espanha a preto e branco, a invasão japonesa da China a preto e branco, o desembarque da Normandia a preto e branco, a fundação de Israel a preto e branco e a primeira Guerra da Indochina (onde aliás perdeu a vida às 14h55 de uma tarde de Maio) a preto e branco. A história podia acabar aqui — e depois da redescoberta, em 2007, da “Mala Mexicana” contendo os lendários e misteriosamente desaparecidos negativos dos anos espanhóis de Capa, parecia realmente que tudo o que havia para contar já estava contado — se o International Center for Photography (ICP) de Nova Iorque não estivesse em condições de lhe acrescentar, já a partir do próximo dia 31 de Janeiro, mais um capítulo, agora a cores.

Capa in Color, a exposição que a curadora Cynthia Young organizou a partir do acervo total de 4.200 negativos a cores do fotógrafo húngaro co-fundador da Agência Magnum, mostra, em muitos casos pela primeira vez, a segunda vida que Robert Capa teve depois de ressacada a Segunda Guerra Mundial, num mundo mais dividido ao meio do que nunca mas pelo menos temporariamente pacificado. Atravessando o período de 16 anos que vai de 1938 a 1954, as 125 imagens, muitas das quais inéditas, de Capa in Color mostram um fotojornalista disposto a adaptar-se para continuar “relevante” para as revistas americanas que até aí lhe tinham comprado trabalhos, explica a curadora, e que teve de “reinventar-se” longe das guerras e dos conflitos políticos. Um fotojornalista que, acrescenta, talvez não reconheçamos imediatamente: “Uma das razões pelas quais nunca vimos estas imagens tem a ver com o facto de, na sua maioria, elas não representarem os grandes acontecimentos heróicos que o tornaram conhecido. Depois da sua morte, parecia uma anomalia que este grande mestre do preto e branco tivesse também um trabalho a cores — foi por isso que foi esquecido”, disse ao Guardian.

Do dia-a-dia na União Soviética (que visitou com o seu amigo John Steinbeck) às férias dos famosos em Deauville e Biarritz, dos bastidores com Ingrid Bergman (ela queria casar com ele, apesar de estar casada com outro, ele não era “do tipo que se casa”) à fotografia de moda, Capa in Color pode não mudar muito a maneira como o mundo vê Robert Capa, mas deixará por escrito que, longe do sangue e da fúria das várias guerras que presenciou em 40 anos de vida, Robert Capa viu o mundo de outra maneira. No dia em que pisou uma mina e morreu, tinha duas máquinas com ele. Só uma delas tinha um filme a preto e branco. 

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