Pastorícia suburbana

Tiago Guillul esteve perto de um grande pequeno disco lo-fi.

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Tiago Cavaco regressa ao seu heterónimo pop.

Durante uns anos o protestante lisboeta Tiago Cavaco lançou discos como Tiago Guillul — antes de se tornar pastor e dedicar-se à sua religião (e profissão). Agora talvez tenha encontrado forma de equilibrar a pastorícia e a pop e regressa com um álbum em que recorda o seu crescimento no bairro Janeiro, na Amadora, em que cinemas antigos e idas a concertos constituem os motes para as cantigas. Num disco curto as canções de excepção destacam-se de imediato. Não porque se distingam em termos sonoros ou de arranjos, visto que tudo aqui parte de um strumming de power chords em guitarra acústica com um órgão antigo por cima, antes à conta de refrões iluminados — no caso de É Janeiro, por exemplo, é de uma imensa beleza a união do órgão (de igreja, parece-me) com a melodia do refrão, que no fim tem uma voltinha deliciosa.

O strumming é o gancho de Meu destino no teu rosto, que tem uma segunda guitarra a lembrar Silver Jews e, de novo, óptima melodia. A mesma técnica marca Trapattoni, óptimo tema sobre um treinador de má memória para o futebol português. Podia incluir-se True believer, que chega perto das anteriores, e Os abutres estão na pista, mas esta, na realidade, é uma versão de Spanish bombs, dos Clash; sendo que há um tema menos conseguido, Isto já foi um cinema, que revela a limitação daquele strumming. Fica-se com a impressão de que Guillul esteve perto de um grande pequeno disco lo-fi (à maneira dos Halo Benders, por exemplo) mas faltou-lhe um par de canções. Que um disco pop é como um bar, só é grande quando há cinco belos singles lá dentro.

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