Não houve massacre em Valada

O segundo dia do Reverence Valada não valeu pelos concertos – mas o conceito é altamente louvável.

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A Place to Bury Strangers Nuno Ferreira Santos
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A Place to Bury Strangers Nuno Ferreira Santos
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A Place to Bury Strangers Nuno Ferreira Santos
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A Place to Bury Strangers Nuno Ferreira Santos
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O ambiente do festival Nuno Ferreira Santos
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A entrada Nuno Ferreira Santos
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The Ravaonettes Nuno Ferreira Santos
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The Ravaonettes Nuno Ferreira Santos
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The Ravaonettes Nuno Ferreira Santos
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O ambiente do festival Nuno Ferreira Santos
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Brian Jonestown Massacre Nuno Ferreira Santos
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Os Brian Jonestown Massacre Nuno Ferreira Santos
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O ambiente do festival Nuno Ferreira Santos
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O ambiente do festival Nuno Ferreira Santos
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Durante o concerto de Brian Jonestown Massacre Nuno Ferreira Santos
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O ambiente do festival Nuno Ferreira Santos
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Na actuação dos Brian Jonestown Massacre Nuno Ferreira Santos

Pensando bem, faz sentido que os Brian Jonestown Massacre sejam a banda mais importante de um cartaz – ou de um dia do cartaz – do Reverence Valada (que começou quinta-feira e termina este sábado), mesmo que não tenham dado um concerto consentâneo com o seu historial. E nada melhor que reflectir num pequeno detalhe para o demonstrarmos.

Quem pegasse nos horários que a organização do festival distribuiu encontrava lá dados relativos a quinta-feira, a sexta-feira e a sexta-feira. Mas imaginemos que alguém abria o flyer na folha com a segunda sexta - um tipo dava por si a pensar, ao olhar para as bandas anunciadas para aquele dia, “Mas não foram estas as bandas que eu vi na net que iam tocar hoje”. Não é grande mal, desdobrando por completo o folheto acabava por se dar com as duas sextas e percebia-se que foi erro, mas o pormenor serve como símbolo: este não é o festival do profissionalismo, de modo que o melhor é chamar a banda de Anton Newcombe, reis do não-profissionalismo.

Os Brian Jonestown Massacre ofereceram um belíssimo concerto médio às gentes, sem o caos que no fundo toda a gente queria mas temia ver, tendo sido prejudicados por um som sem força. Mas talvez isto não seja o mais importante no Reverence. Porque há qualquer coisa de engraçado em ver um concerto entre árvores, como se os concertos fossem uma epifania para quem arrisca sair da cidade.

Para chegar a um concerto, como o dos Raveonettes, é preciso atravessar mato. Chegado ao local das festividades, não há muita luz – tudo aqui é recatado e mínimo. O concerto está longe de ser extraordinário – muito noise, como se estivesse em exibição uma colecção de lados B dos Jesus and Mary Chain, intercalados com a ocasional boa canção que parece sempre apenas uma média canção dos My Bloody Valentine ainda por acabar. Um embrião com melhor roupa mas que não se distingue partitcularmente das restantes cópias.

Isto talvez seja o concerto mais suave – apesar do ruído – que o público ouviu na noite de sexta-feira. Estamos a falar de um público que parece composto por toda a variedade possível de pessoas que nunca põem os pés na praia. Aquele tipo de rapaz que ainda usa T-shirts dos Napalm Death ou que não despe o casaco de cabedal apesar de estar calor, aquele tipo de pessoa para quem o preto é a cor de eleição.

As coisas são lentas e calmas, por aqui, diferentes da cidade: um hamburguer custa um euro e meio num tasco da terra; uma refeição pode demorar três horas porque quem serve não tem pressa. Lentos e calmos é coisa que os Brian Jonestown Massacre não são. Anton Newcombe, após tentar acabar com toda a produção de heroína do mundo, está um pouco acabado. Se tomassem banho, os membros dos Brian Jonestown Massacre podiam fazer parte dos Pulp. É surpreendente verificar que uma banda que nunca conseguiu arrastar gente tem ali fãs a sério: não há gente a olhar para os telemóveis, ali.

Em fundo projectam-se aqueles fractais em que formas se refractam e depois recompõem – tão sofisticadas como os gráficos do Pentium X. A única pessoa que parece mais velha que Anton Newcombe é um tipo que anda a passar haxixe, de cara chupada e pele curtida, o tipo de personagem que já não se vê desde os anos 90.

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Durante o concerto dos Brian Jonestown Massacre Nuno Ferreira Santos

As canções reflectem a sua natureza copista, de quem ouviu obsessivamente os Stones, os My Bloody Valentine, todo o rock sujo e desviante. Há um puto que diz :“Esta música é bué fixe para desmoer a cabeça” e há uma razão para isso: o psicadelismo venceu o rock'n'roll, forma de dizer que foi tudo menos confrontacional que espiritual, forma de dizer que longe vão os tempos em que os concertos deles acabavam à pancada, forma de dizer que quem tratou do som não se preocupou em dar-lhe força. Digamos que: se o palco fosse um actor pornográfico, não havia cena final.

Por esta altura ainda havia um concerto que assinalámos como obrigatório, o dos A Place to Bury Strangers (APTBS), sendo que perdemos Fat White Family (FWF) enquanto andámos a reconhecer a zona, que ainda não conhecíamos – quem viu diz que os FWF foram a melhor coisa de sexta-feira, embora haja quem defenda os APTBS. Percebe-se porquê: ali houve uma verdadeira descarga eléctrica e algum sentido de encenação, com a banda a partir guitarras, a desaparecer do palco no meio do fumo e a reaparecer junto à cabine de som para tocar rente ao público.

Valha a verdade, foi mais a encenação que outra coisa: já se partiam guitarras ao segunto tema, o que é absurdo, e a descarga eléctrica não traz nada de novo às canções – digamos que a descarga é o modo default, pelo que não é descarga, é carga.

Independentemente da qualidade dos concertos, há coisas verdadeiramente boas num festival com a especificidade do Valada: aqui não há uma catadupa de marcas a promover o engagement com o público, de modo a aumentar a proposta de valor da marca. Não há torres de alumínio com um néon a piscar, nem meninas a oferecer preservativos, nem bebidas de graça para quem participar num concurso. É só música e paz. Num largo encontram-se bancos de madeira e luzes fracas a pender de fios que cruzam as árvores. É bonito.

 

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