Aline Frazão, o brilho de uma estrela urbana com Luanda no horizonte

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Aline Frazão no São Luiz www.sapo.ao/José Aveiro
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Se Aline Frazão, pelo seu trabalho e pelo seu percurso, prometia um óptimo espectáculo para a sua estreia no São Luiz, na noite de 31 de Janeiro, melhor cumpriu. Assente nos seus dois discos a solo, Movimento (o mais recente) e Clave Bantu (já mais rodado), o que a jovem cantora e compositora angolana apresentou em Lisboa foi um concerto soberbo, relevador do seu à-vontade nos palcos, da sua versatilidade e expressividade vocal e da notável veia criativa que preside às suas canções.

Como porto seguro, Aline teve a seu lado o trio com que habitualmente toca (Francesco Valente, contrabaixo e baixo eléctrico; Marcos Alves, bateria e percussão; Marco Pombinho, piano e Fender Rhodes) mais um convidado, o guitarrista lisboeta João Pires (agora a viver, e a tocar, no Brasil), que ajudaram a explanar a paleta de timbres e cores que ela, também com eles, cria.

Se o início se fez, naturalmente, como o novo disco, ouvindo-se, em sequência, As paredes de Mayombe, Crónica de um (des)encontro, Cacimbo, Lugar vazio e Desassossego, os temas do disco anterior foram-se, aos poucos, insinuando com novas roupagens. Primeiro, Clave Bantu, depois Rascunhos (canção que deu nome à sua primeira maqueta) e O céu da boca, com letra de José Eduardo Agualusa, presente na sala. Pelo meio, mais canções de Movimento: o belíssimo Poema em sol poente, só voz e quissange, tocado por ela; e A última bossa, que no seu embalo brasileiro fez a ponte exacta com o tema, também ele tropical, de Agualusa.

Navega, do álbum Caminhar, de João Pires (lançado em 2013), fê-la abraçar como se fosse seu um tema alheio, e Ronda devolveu-nos ao seu universo, urbano e sensual, juvenil e adulto, brilhante e sedutor. Novo recuo até Clave Bantu, em alta, com recriações de Primeiro mundo, Oriente e O que ela quer. Tanto, o tema dela que ultimamente mais se ouve, por via do videoclip homónimo, apanhou o público já em festa. E, nem de propósito, Aline escolheu para encerrar oficialmente a noite o tema mais apropriado a tal ambiente: Nossa festa.

No encore, depois de muitos aplausos e de alguns “bravo!”, ouvidos ao longo da noite, Aline voltou só, com a guitarra a tiracolo, para cantar Assinatura de sal, e, já com os músicos de volta, Na boca de Angola, tema desafiador de Clave Bantu, uma canção “perigosa”, como ela, brincando, avisou: “De novo eu digo, meu povo/ Basta desse jogo: já deu!/ Comida na mesa,/ N'dengues na escola,/ Pão e liberdade.” Tão actual ontem como hoje. Em Angola e não só.

As canções de Aline Frazão, abençoadas pela sua voz, mergulham no quotidiano de hoje, o que ela conhece e o que nos é próximo, transversal ao tempo e às gentes. Em Lisboa, o que vimos foi o brilho de uma estrela urbana com Luanda no horizonte. O futuro, não duvidem, é dela.
 
 
 

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