A todos nos foge o pé para a pop latina. A ele fogem os dois

Esta foi a nossa mordidita de Ricky Martin. E que não passem mais dez anos.

O cantor em palco em Lisboa
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O cantor em palco em Lisboa LUSA/MANUEL DE ALMEIDA
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Estão três amigos italianos num carro. Refilam. Na rádio salta a “despacito”. Que horror, sempre o mesmo som, as letras com as mesmas rimas. Mas porquê? Estão fartos. Até que… “pasito a pasito, suave suavecito” estão os três a cantar uma letra que se entranha sem darem conta. É assim a relação de muitos com a pop latina. A minha é diferente.

Eu tenho dois pés esquerdos, o que é uma tristeza para qualquer um que goste de futebol e de dança. Movo-me a regra e esquadro, mas gosto de achar que aquele salero interior passa para o exterior como se estivesse no videoclip do Livin’ la vida loca. Pura ilusão. Ele não, ele nasceu para aquilo, mesmo que passem 20 anos parece tudo igual em Ricky Martin, até no penteado.

Ueeeeepaaaaa… Sim, já se mede nas duas dezenas de anos. Éramos uns miúdos à espera que o Brasil ganhasse aquele Mundial à França, até a música combinava go, go, go, allez, allez, allez… Tudo feito, diziam. Tudo feito, sim, mas se a música oficial do torneio combinava com o samba dos pés do Rivaldo e Ronaldo, os franceses tinham no Zizou, o bailarino da gala, mesmo com dois golos marcados de cabeça. Ok, chega de futebol, afinal este artigo é sobre um cantor de Porto Rico que saltou para a ribalta em un, dos, três… Maria, ainda em 1996, e a Copa de la vida consagrou-o como o rei da pop latina, numa rivalidade tranquila com Enrique Iglesias, que fez este estilo de dança ultrapassar fronteiras e ganhar tops à boleia dos meninos bonitos, mas este, com mais voz e mais dança.

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O cantor em palco em Lisboa LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Dizia eu que tenho dois pés esquerdos. Também poderia dizer que a todos nos foge o pé para a pop latina. A ele, fogem os dois. Abram alas que entrou em palco “mister put it down” com muita pop do mais recente disco, menos latina e mais americanada. Ele avisou que queria fazer-nos “esquecer de todos os problemas” e dar-nos “a little fun, a little love, a little dancing”. Venham eles, que quem vai a um concerto de Ricky Martin quer “shakethe bon-bon” e depois não dispensa uma boa Adrenalina. Foram as primeiras provas que no ex-Pavilhão Atlântico, em tempo de santos populares, também se dança. E não é pouco. Não foi pouco.

Durante hora e meia, os pés de Ricky Martin, que continua aos 45 anos a dançar como se tivesse 25, não tiveram grande descanso. Nem a meia dúzia de bailarinos incansáveis que, tal como ele, mudaram de roupa a cada música. Nós entendemos, ficámos com inveja de não podermos fazer o mesmo.

Mas o porto-riquenho tem também aquele pé suave, aquela mão no coração para acalmar e puxar ao sentimento, aquela palavra de solidariedade por Venezuela ou um pedido sem voz mas com letras para pedir ajuda para Fundação Ricky Martin, que trabalha no combate ao tráfico de crianças.

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Pausa. Vamos des-pa-ci-to ouvir o Ricky que ele quer cantar baladas que serviram de banda sonora a telenovelas. Mesmo. Quatro ou cinco que chegaram com um hit de outros tempos e obrigou a puxar a memória da te extraño, te olvido, te amo, aquela que lhe abriu em tempos idos a porta dos tops da Ibéria, por onde tem andado a apresentar o álbum já com dois anos, A quien quiera escuchar.

O homem que esta sexta-feira esteve em Lisboa não está no número 1 do top norte-americano, mas andou no caminho para que o outro porto-riquenho Fonsi lá chegasse esta semana. É glória de outros tempos, embora ainda muito actual, e por isso a plateia tem na sua maioria mais de 30.

Dez anos depois de ter estado naquele mesmo pavilhão, tinha prometido que ia dançar o mais que pudesse. Talvez por isso não se perdeu muito tempo no mar calmo e voltou aos hits de dança num piscar de olhos.

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As notas terminam aqui, os vídeos também. O início da recta final dava para perceber o rolo descompressor que aí viria. Sim, descompressor, que não há tensão de final de semana que resista a tanto baile. Começou com um adiós para logo depois usar o contraditório e pedir antes “vente pa'ca”, os dois singles do último álbum.

Talvez cansado da quantidade de anos a cantar o mesmo, resolveu as mais antigas Lola, Maria ou La bomba num medley de passo apressado. Foi um para arriba, para abajo de fazer suar as estopinhas, mas em bom.

Esta foi a nossa mordidita de Ricky Martin. E que não passem mais dez anos.

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