A desadjectivada

A batata doce sabe bastante a castanha: talvez seja essa parecença que nos cai tão bem no goto.

Em muitas casas de Portugal quando se fala de batatas está-se a falar de batata doce. A batata doce da zona de Aljezur é justamente famosa mas a produção tem-se alargado muito nos últimos anos, invadindo os nossos pratos com um gosto e uma saúde que as meras batatas não têm.

Nessas casas a batata tradicional, trazida do Peru, já vem sendo conhecida como batata branca ou vulgar. Ganhou um adjectivo que não tinha. Em contrapartida a batata doce, à força de tanto substituir a outra, perdeu o adjectivo e ganhou o estatuto de ser apenas batata. É assim também que acontece na Argentina e nalguns outros países da América do Sul.

A batata doce sabe bastante a castanha: talvez seja essa parecença que nos cai tão bem no goto. Afinal os portugueses comiam castanhas muito antes de começar a comer batatas há apenas 3 séculos atrás.

Bem sei que a batata doce é tão recente como a branca mas, quando a tripulação de Cristovão Colombo provou uma e outra pela primeira vez, aposto que a doce estava mais conforme os hábitos alimentares.

Enquanto a qualidade das batatas tem tremido (é difícil encontrar as amarelas que calham tão bem com sardinhas assadas), a da batata doce tem melhorado de ano para ano, sobretudo na agricultura bio. Uma das grandalhonas, rapidamente descascada, dá para fazer um tacho de jardineira para toda a família.

Fica a provocação para as batatas vulgares. É altura de contra-atacar com mais escolhas e maior deliciosidade. As melhores batatas são sempre as desadjectivadas.

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