Em meados desta semana, durante a hora de almoço, um grupo de jovens colegas juntou-se, fez pulseiras da amizade e cantarolou canções de Taylor Swift, num espaço reservado, sem incomodar ninguém. Olhei para o grupo numa confusão de sentimentos. Por um lado, a estranheza de observar comportamentos relativamente infantis num local de trabalho, por outro, a ternura de as ver a construir laços de cumplicidade, importantes também em ambiente de trabalho. 

Escreve um leitor: "Estranho é este bruaá em volta da mediocridade, mesmo nos suplementos culturais de jornais supostamente sérios e rigorosos." Bem, seria estranho o PÚBLICO passar ao lado de um fenómeno que é global, não o noticiar e não o explicar aos leitores que o desconhecem. Por isso, foram várias as secções que abraçaram o tema. No Ímpar, já o tínhamos feito, mal a digressão chegou à Europa, mostrando as novidades do guarda-roupa da cantora que nasceu na música country, em Nashville, e abraçou o mundo inteiro. 

Esta semana, voltámos ao guarda-roupa e a todos os criadores que a artista promove ao longo do concerto, numa fotogaleria pormenorizada. Mas fomos mais longe e perguntámos aos criadores portugueses como a vestiriam. Houve quem tivesse respondido que não gosta de Swift, logo, não estaria disponível para o fazer. "Que falta de visão", pensei quando Inês Duarte de Freitas, a jornalista que escreve sobre moda, me contou. Porque a moda de autor precisa de clientes, de preferência celebridades que façam desfilar o seu trabalho em locais bem visíveis, como aconteceu em Cannes, ao longo de dez dias — para lá dos filmes e dos prémios, destacamos dez histórias

Sexta-feira, nas ruas da cidade, cruzei-me com dezenas de jovens vestidos com lantejoulas, roupas alegres e penteados como tranças, totós, e rabos-de-cavalo presos no alto da cabeça. Alguns eram estrangeiros, o que vem provar que Swift é um fenómeno global e movimenta a economia dos países por onde passa. O fenómeno chega mesmo aos bancos das universidades, onde há cadeiras em torno da poesia que reside nas letras que escreve. A sua escrita é diarística e é isso que prende os seus fãs, os swifties, porque fala das dúvidas que se têm na adolescência, o amor, claro, mas também a amizade.

Swift conseguiu construir uma carreira apesar dos entraves que lhe foram postos (viu-se obrigada a regravar os seus álbuns, numa luta por readquirir os seus direitos de autor), dos inimigos que foi fazendo, e mostra às raparigas que é possível vencer num mundo dominado pelos homens. O tal do patriarcado que tem tanta dificuldade em homenagear as mulheres, como lamenta Liliana Carona, a propósito do nome do futuro aeroporto.

A cantora norte-americana é inteligente na construção de uma carreira que vai prendendo os fãs desde o início, com as tais pistas que deixa de uns álbuns para os outros — como se fosse uma caça ao tesouro. Além disso é uma "girl's girl", ou seja, é "amiga das suas amigas", eleva-as, apoia-as, protege-as e combate todas aquelas ideias de que as mulheres são más umas para as outras. Um bom exemplo de cumplicidade feminina.

Ou seja, a vida e a carreira de Swift ensina que nos devemos saber defender, a ser emancipadas, mas que podemos ser companheiras umas das outras (como as minhas camaradas de trabalho, na sua hora de almoço), e podemos ser vulneráveis (como revelam as letras) — no fundo, que podemos ser mulheres de corpo e alma, e isso é um bom ensinamento para todas as raparigas que cantam em conjunto as suas músicas, felizes, durante um concerto ou num momento de karaoke, num bar longe de casa. E é um exemplo também para os rapazes que têm de aprender a viver com raparigas livres e inteligentes, a ter orgulho de as terem por companheiras.

A música é medíocre? Há um mês, o crítico do PÚBLICO deu duas estrelas ao último álbum da cantora. O mesmo crítico que seleccionou 15 canções "em defesa de Taylor Swift" — um bom momento para conhecermos o que ouvem raparigas e rapazes que encheram os braços de pulseiras, que trocaram com desconhecidos durante os concertos; bom para não falarmos do que não sabemos.

Swift terá certamente mais falhas, mas uma que salta à vista é a questão ambiental, com tantas viagens, como as que faz durante a digressão para ir aos EUA visitar o namorado. Para ver Travis Kelce, em Kansas City, os jactos em que viajou emitiram 138 toneladas de dióxido de carbono que, comparando com um cidadão médio é brutal, já que este emite entre quatro e 4,7 toneladas de CO2 por ano. Enfim, sabemos, ninguém é perfeito.

Boa semana!