Macron faz visita de Estado histórica à Alemanha

Há 24 anos que não havia uma visita oficial de Estado do Presidente francês à Alemanha. Objectivo é calibrar posições entre os dois países em vários temas fundamentais para a Europa.

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Macron foi recebido por Steinmeier em Berlim este domingo Nadja Wohlleben / REUTERS
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O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi recebido este domingo pelo homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier, em Berlim, para o início da primeira visita oficial de Estado de um chefe de Estado francês à Alemanha em 24 anos.

A visita de Macron está revestida de simbolismo e significado histórico, com a inclusão de uma viagem até Dresden, onde o Presidente francês irá fazer um discurso em frente à Frauenkirchen, uma igreja que foi destruída pelos bombardeamentos dos Aliados durante a II Guerra Mundial. Este domingo, Macron atravessou a Porta de Brandemburgo ao lado de Steinmeier.

Durante os próximos dias, Macron também vai visitar o Memorial do Holocausto e participar em cerimónias para assinalar o 75.º aniversário da Constituição alemã. Macron já visitou várias vezes a Alemanha desde que está na presidência, sobretudo para encontros com o chanceler Olaf Scholz, e com a sua antecessora, Angela Merkel, mas nunca para uma visita de Estado, que protocolarmente é feita a convite do Presidente da República.

Mas, para além do marco histórico, a visita de Estado de Macron à Alemanha remete também para um momento altamente sensível das relações entre os dois países, desde sempre considerados o “motor” da integração europeia.

A visita “é uma tentativa, ao mais alto nível política, de demonstrar que a relação está a funcionar”, diz o director para a Europa do Eurasia Group, Mujtaba Rahman, citado pela Reuters. “Mas permanecem lacunas fundamentais em questões relevantes que pairam sobre a União Europeia”, acrescenta.

O ponto principal da agenda de Macron na Alemanha nos próximos dias será a reunião ministerial conjunta entre os dois executivos, na terça-feira, em Meseberg, perto de Berlim. No encontro espera-se que Macron e Scholz tentem dar sinais de aproximação em vários dossiês fundamentais para a Europa, nomeadamente a defesa e a competitividade económica.

O encontro pretende “encontrar pontos de convergência entre a França e a Alemanha em temas do futuro, como a tecnologia, inovação e inteligência artificial”, explicou à Euronews a analista do Comité de Relações Franco-Alemãs, Jeanette Suss.

Há temas que historicamente separam as duas nações, como o recurso à energia nuclear – mantém-se como um dos pilares do sistema energético francês, enquanto a Alemanha encerrou a última central no ano passado.

Será, porém, a invasão da Ucrânia a ocupar uma porção considerável das discussões entre Macron e Scholz na reunião ministerial conjunta. Também aqui os dois parceiros europeus têm apresentado algumas divergências, nomeadamente no alcance do apoio que deve ser dado a Kiev e como deve ser encarada a dependência militar em relação aos EUA.

Macron tem dado sinais de defender uma intervenção mais profunda da Europa ao lado da Ucrânia, chegando a sugerir de forma ambígua a possibilidade de virem a ser enviados militares da NATO para a Ucrânia, enquanto Scholz tem traçado uma linha vermelha firme em relação a qualquer envolvimento desse género. O Presidente francês tem também insistido na necessidade de maior capacidade militar europeia, sobretudo perante a possibilidade de Donald Trump regressar à Casa Branca a partir do próximo ano.

A visita de Macron à Alemanha coincide igualmente com o período de campanha para as eleições para o Parlamento Europeu e nos dois países enfrenta-se a perspectiva de ganhos importantes da extrema-direita – em França, a União Nacional de Marine Le Pen poderá mesmo ser o partido mais votado, enquanto na Alemanha a AfD tem possibilidades de ficar em segundo lugar, à frente dos sociais-democratas de Scholz.

Se há algo que, porém, aproxima os dois líderes no momento actual, observa o Le Monde, é o momento de fraqueza de ambos: “Dos dois lados do Reno, o capital político e a energia parecem estar em níveis baixos para conseguir operar mudanças numa Europa ameaçada em todas as frentes.”

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