Eleições europeias: guerra de estrelas?

É muito importante que os partidos que representam essa grande maioria pró-Europa, dos moderados de esquerda, de centro e de direita, obtenham o melhor resultado possível nestas eleições europeias.

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Em janeiro deste ano noticiava-se que os movimentos políticos europeus que têm sustentado a integração e a arquitetura institucional da União poderão descer a sua representatividade no Parlamento Europeu para valores abaixo de 55%.

A importância e o peso eleitoral dos moderados de esquerda, de centro e de direita tem sido essencial para o sucesso do projeto da União Europeia. Sendo esta a mais bem sucedida criação multilateral internacional, que se autotransformou numa organização de integração regional, com capacidade produção de legislação centralizada, com um mercado interno, numa verdadeira área económica quase óptima, com uma moeda única, com um tribunal de europeu e com um espaço territorial de várias liberdades e com cidadania comum.

Se com a pandemia de covid-19 presenciámos um choque económico e social simétrico, para o qual a ação conjunta da União foi essencial à mitigação dos seus efeitos, quer com o apoio imediato à entropia da economia (com o instrumento temporário de mitigação Sure), quer com a compra e distribuição conjunta de vacinas, é um facto que o decurso do tempo transforma efeitos simétricos em consequências assimétricas, e portanto só uma acção centralizada na economia a partir da UE salvaguarda as populações de crises maiores, profundas e mais prolongadas (vide o programa de recuperação da Europa: NextGenerationEU).

A história e a restante ciência, com certeza, ainda terão muito a estudar sobre este período recente da nossa vida europeia e global.

Aproxima-se mais uma eleição para o Parlamento Europeu, que ocorrerá em simultâneo para todos os Estados-membros, e será que nos preparamos para a desvalorizar? Não pode ser. A importância e centralidade das políticas e iniciativas europeia na vida dos cidadãos deve impedir que se use estas eleições como meros barómetros das ação dos governos nacionais.

Por exemplo, em matéria de defesa e de segurança externa, qual o posicionamento que queremos que os nossos eleitos europeus assumam no Parlamento Europeu, quando vivemos num contexto ao qual vários especialistas já chamam de pré-guerra, devido ao conflito militar na Ucrânia invadida pela Federação Russa?

Queremos ter uma força europeia – como uma 28.ª unidade ao lado das forças nacionais – o que permitiria reações mais rápidas e apoiar a defesa dos sistemas já existentes nos Estados-membros? Queremos ter um conjunto de procedimentos integrados para tomadas de decisão mais rápidas, capacidade permanente de aquisições conjuntas de material militar e uma prospectiva de indústria de defesa planeada para a Europa? Obviamente, num quadro estratégico articulado com a Aliança Atlântica (NATO). Mas, uma estratégia de defesa comum mais forte, aumenta a autonomia estratégica da União, permite incrementar uma política externa de dissuasão de conflitos e mais coesão interna entre os Estados-membros.

Em dezembro passado, em resposta a um órgão de comunicação social, perante a pergunta se admitia o regresso do serviço militar obrigatório para resolver a enorme falta de efetivos nas Forças Armadas, respondi que não: “O caminho traçado nas últimas décadas, com a profissionalização e a especialização, não é compatível com a recuperação desse tópico divisivo. Há muito que a opção dos governos PS (e de outros) passa pela profissionalização das Forças Armadas e pela melhoria da sua atratividade, sobretudo no quadro dos nossos compromissos internacionais. As condições remuneratórias, benefícios e reinserção na vida civil são essenciais para umas forças mais adaptadas às exigências do contexto geopolítico atual.”

Apesar de ser clara a minha preferência pela profissionalização, sobretudo num quadro de novas tecnologias e da ciência do tratamento e uso de dados, não me repugna que se discuta modelos de voluntariado e de preparação cívica da comunidade, sem necessidade de se chegar a uma discussão da obrigatoriedade de um serviço militar efectivo, que seria pouco ajustado à realidade tecnológica que vivemos.

É claro que a defesa exigirá uma maior capacidade de alocação de recursos financeiros, e mais solidariedade entre os Estados-membros da União Europeia.

Por isso, voltando ao início desta reflexão, é muito importante que os partidos que representam essa grande maioria pró-Europa, dos moderados de esquerda, de centro e de direita, obtenham o melhor resultado possível nestas eleições europeias. É preciso que apresentem a estas eleições as e os melhores candidatos, e que debatam cidade a cidade, freguesia a freguesia, o futuro da Europa, explicando como é crucial haver uma maioria clara no Parlamento Europeu comprometida com a integração europeia. O que não se compadece com a transformação das eleições europeias num mero barómetro do governo ou das oposições, e muito menos com um mero voto de protesto.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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